Abraços significam amor para alguém com quem realmente nos importamos...
para nossos avós ou nossos vizinhos, ou até mesmo para um ursinho amigo...
Um abraço é algo espantoso... é a forma perfeita de mostrar o amor que sentimos, mas que palavras não podem dizer.
É engraçado como um simples abraço faz-nos sentir bem...
em qualquer lugar ou língua...
É sempre compreendido...
E abraços não precisam de equipamentos, pilhas ou baterias especiais...
É só abrir os braços e o coração...
Coração com coração, sempre do vosso lado esquerdo...
Guardem este abraço !
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
domingo, 30 de dezembro de 2012
Post Scriptum
Afasto de ti com
raiva surda
o corpo
as mãos
o pensamento
e apago secreta
uma a uma
as velas acesas do teu vento
liberta ponho o corpo
em seu lugar
visto a cidade
penteio um rio sedento
penso ganhar
e fujo
e não entendo
penso dormir
mas não consigo
o tempo
E cede-se o vazio
sobre o meu ventre
e segue-se a saudade
em seu sustento
E digo este meu vício
dos teus olhos
de um verde tão lento
muito lento
Se penso que te deixo
já te quero
Se penso que recuso
já te anseio
Se penso que te odeio
já te espero
e torno a oferecer-te
o que receio
Se penso que me calo
já te grito
Se penso que me escondo
já me ofereço
Se penso que não sinto
é porque minto
Se pensas que me olhas
já estremeço.
Maria Teresa Horta
raiva surda
o corpo
as mãos
o pensamento
e apago secreta
uma a uma
as velas acesas do teu vento
liberta ponho o corpo
em seu lugar
visto a cidade
penteio um rio sedento
penso ganhar
e fujo
e não entendo
penso dormir
mas não consigo
o tempo
E cede-se o vazio
sobre o meu ventre
e segue-se a saudade
em seu sustento
E digo este meu vício
dos teus olhos
de um verde tão lento
muito lento
Se penso que te deixo
já te quero
Se penso que recuso
já te anseio
Se penso que te odeio
já te espero
e torno a oferecer-te
o que receio
Se penso que me calo
já te grito
Se penso que me escondo
já me ofereço
Se penso que não sinto
é porque minto
Se pensas que me olhas
já estremeço.
Maria Teresa Horta
Disse-te um dia
Disse-te um dia
que havia de dar-te uma estrela
tão real como os sonhos
do rio Guadalquivir
e o perfume adolescente
do teu corpo
a ondular na aurora de Sevilha
Não foste comigo a Barcelona
ver as pesadas corolas e os mosaicos
de La Pedrera
mas espera-me no aeroporto
de nunca antes
o rumor febril dos teu olhos
onde aprendi
que o tempo não existe
Mas a vida pode ser
também mágoa escura
bem sabes Por isso te prendo
as mãos sobre as ancas
para não fugirmos mais um do outro
e bebo todo o sol e afinal o tempo
nos teus lábios
Urbano Tavares Rodrigues
que havia de dar-te uma estrela
tão real como os sonhos
do rio Guadalquivir
e o perfume adolescente
do teu corpo
a ondular na aurora de Sevilha
Não foste comigo a Barcelona
ver as pesadas corolas e os mosaicos
de La Pedrera
mas espera-me no aeroporto
de nunca antes
o rumor febril dos teu olhos
onde aprendi
que o tempo não existe
Mas a vida pode ser
também mágoa escura
bem sabes Por isso te prendo
as mãos sobre as ancas
para não fugirmos mais um do outro
e bebo todo o sol e afinal o tempo
nos teus lábios
Urbano Tavares Rodrigues
Janela da Saudade
Não quero sentir saudade
Mas olhando da minha janela
Tudo me fala de ti...
O ar que me envolve
Impregnado dos teus amoras
Eleva o meu olhar
Até ao horizonte longínquo
Onde te escondes...
Não quero sentir saudade
Mas a minha janela
Está voltada para o Céu
Em que vives.
As nuvens desenham formas
Que fazem lembrar o teu rosto
E a chuva que bate na vidraça
És tu chamando por mim...
És brisa que me beija,
Núvem que me embala,
Trovão que me desperta...
Não não quero sentir saudade
Mas não posso fechar a minha janela!
Céu Cruz
Mas olhando da minha janela
Tudo me fala de ti...
O ar que me envolve
Impregnado dos teus amoras
Eleva o meu olhar
Até ao horizonte longínquo
Onde te escondes...
Não quero sentir saudade
Mas a minha janela
Está voltada para o Céu
Em que vives.
As nuvens desenham formas
Que fazem lembrar o teu rosto
E a chuva que bate na vidraça
És tu chamando por mim...
És brisa que me beija,
Núvem que me embala,
Trovão que me desperta...
Não não quero sentir saudade
Mas não posso fechar a minha janela!
Céu Cruz
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Poema da recusa
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda
Maria Teresa Horta
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda
Maria Teresa Horta
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Morrer de amor é assim
Quem morre de tempo certo
ao cabo de um certo tempo
é a rosa do deserto
que tem raízes no vento.
Qual a medida de um verso
que fale do meu amor?
Não me chega o universo
porque o meu verso é maior.
Morrer de amor é assim
como uma causa perdida.
Eu sei, e falo por mim,
vou morrer cheio de vida.
Digo-te adeus, vou-me embora,
que os versos que eu te escrever
nunca os lerás, sei agora
que nunca aprendeste a ler.
Neste dia que se enquadra
no tempo que vai passar,
termino mais esta quadra
feita ao gosto popular.
Joaquim Pessoa
ao cabo de um certo tempo
é a rosa do deserto
que tem raízes no vento.
Qual a medida de um verso
que fale do meu amor?
Não me chega o universo
porque o meu verso é maior.
Morrer de amor é assim
como uma causa perdida.
Eu sei, e falo por mim,
vou morrer cheio de vida.
Digo-te adeus, vou-me embora,
que os versos que eu te escrever
nunca os lerás, sei agora
que nunca aprendeste a ler.
Neste dia que se enquadra
no tempo que vai passar,
termino mais esta quadra
feita ao gosto popular.
Joaquim Pessoa
sábado, 1 de dezembro de 2012
Amo um anjo
Caminho rendido nas palavras ao vento
seguindo em teus lábios os passos atados
como a lua vendida às dores do desejo
como as ondas seguindo no calor dos teus braços.
O fogo ateado em teus olhos nascido
rebento que cresce das raízes da mão
traz o verso que a vida tem esquecido
porque este sem mim não tem emoção.
Os murmúrios escondidos que teu ventre aquecem
são segredos lembrados que a memória não lembra
são lágrimas engolidas que teu corpo enternecem
são vida esquecida no teu coração.
Perdoa-me, amiga, por não ser quem sou
perdoa-me se te dou a mão
perdoa-me se te trago o vento
perdoa-me o que te der então.
Entre o verde dos teus olhos tua tez se ilumina
é loucura que aperto e não quero largar
abro os ouvidos ao teu nome despido
rio nascido que cresce para o mar.
José Maria Almeida
seguindo em teus lábios os passos atados
como a lua vendida às dores do desejo
como as ondas seguindo no calor dos teus braços.
O fogo ateado em teus olhos nascido
rebento que cresce das raízes da mão
traz o verso que a vida tem esquecido
porque este sem mim não tem emoção.
Os murmúrios escondidos que teu ventre aquecem
são segredos lembrados que a memória não lembra
são lágrimas engolidas que teu corpo enternecem
são vida esquecida no teu coração.
Perdoa-me, amiga, por não ser quem sou
perdoa-me se te dou a mão
perdoa-me se te trago o vento
perdoa-me o que te der então.
Entre o verde dos teus olhos tua tez se ilumina
é loucura que aperto e não quero largar
abro os ouvidos ao teu nome despido
rio nascido que cresce para o mar.
José Maria Almeida
terça-feira, 27 de novembro de 2012
domingo, 25 de novembro de 2012
Blues da morte do amor
já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida,
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.
a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.
há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim.
Vasco Graça Moura
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida,
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.
a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.
há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim.
Vasco Graça Moura
domingo, 11 de novembro de 2012
Búzio
Hoje não trago nada que dizer.
Sossega o teu rosto no meu peito
Repousa em mim a tua tristeza
Ouve os segredos que te não digo
E a canção de forte esperança
Que germina e rompe devagarinho
Por todos os caminhos da vida.
Na pureza desta tarde,
Ao lusco fusco,
Abre comigo os olhos para os belos horizontes
Cada poente mistifica sempre
Una nova madrugada.
Repousa em mim a tua tristeza
Abre comigo os olhos para a vida.
Hoje a minha voz é de búzio
Fala baixo e em segredo
Numa canção que enche o mar, o mundo,
e germina e rompe devagarinho
Por sobre os escombros de luz
Deste poente que cai sobre o mar
Numa angústia de eternidade.
Tomás Jorge
Sossega o teu rosto no meu peito
Repousa em mim a tua tristeza
Ouve os segredos que te não digo
E a canção de forte esperança
Que germina e rompe devagarinho
Por todos os caminhos da vida.
Na pureza desta tarde,
Ao lusco fusco,
Abre comigo os olhos para os belos horizontes
Cada poente mistifica sempre
Una nova madrugada.
Repousa em mim a tua tristeza
Abre comigo os olhos para a vida.
Hoje a minha voz é de búzio
Fala baixo e em segredo
Numa canção que enche o mar, o mundo,
e germina e rompe devagarinho
Por sobre os escombros de luz
Deste poente que cai sobre o mar
Numa angústia de eternidade.
Tomás Jorge
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
domingo, 4 de novembro de 2012
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Não basta abrir a janela
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro
terça-feira, 16 de outubro de 2012
sábado, 13 de outubro de 2012
The Corrs - Everybody Hurts (Unplugged)
http://youtu.be/nkp-U36c_wo
Todo Mundo Se Machuca
Quando seu dia é longo... E a noite
E a noite é solitariamente sua
Quando você está certo de que já teve o suficiente... dessa vida, bem segura ai
Não se deixe ir
Porque todo mundo chora...
E todo mundo se machuca... Às vezes
Às vezes tudo está errado
Agora é hora de cantar sozinha
Quando seu dia é uma noite (Aguente, aguente)
Se você se sentir deixado pra lá (Aguente)
Se você pensa que já teve demais...dessa vida, bem segura ai
Porque todo mundo se machuca... as vezes
Tenha conforto em seus amigos
Todo mundo se machuca
Não solte sua mão. Oh, não.
Não solte sua mão
Se você se sentir como se estivesse sozinho
Não, não, não, você não está sozinho
Se você está sozinho... nesta vida
E se os dias e as noites estão longos
Quando você pensa que já teve demais... segura
Bem, todo mundo se machuca as vezes
Às vezes todo mundo chora
E todo mundo se machuca, Às vezes
E todo mundo se machuca, Às vezes. Então, Segura ai.
Segura, segura, segura, segura
Então aguente firme
Todo Mundo Se Machuca
Quando seu dia é longo... E a noite
E a noite é solitariamente sua
Quando você está certo de que já teve o suficiente... dessa vida, bem segura ai
Não se deixe ir
Porque todo mundo chora...
E todo mundo se machuca... Às vezes
Às vezes tudo está errado
Agora é hora de cantar sozinha
Quando seu dia é uma noite (Aguente, aguente)
Se você se sentir deixado pra lá (Aguente)
Se você pensa que já teve demais...dessa vida, bem segura ai
Porque todo mundo se machuca... as vezes
Tenha conforto em seus amigos
Todo mundo se machuca
Não solte sua mão. Oh, não.
Não solte sua mão
Se você se sentir como se estivesse sozinho
Não, não, não, você não está sozinho
Se você está sozinho... nesta vida
E se os dias e as noites estão longos
Quando você pensa que já teve demais... segura
Bem, todo mundo se machuca as vezes
Às vezes todo mundo chora
E todo mundo se machuca, Às vezes
E todo mundo se machuca, Às vezes. Então, Segura ai.
Segura, segura, segura, segura
Então aguente firme
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Sempre amei por palavras
Sempre amei por palavras muito mais
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero
Alice Vieira
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero
Alice Vieira
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Realidade
Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...
Florbela Espanca
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...
Florbela Espanca
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sophia de Mello Beyner
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sophia de Mello Beyner
sábado, 29 de setembro de 2012
O amor, meu amor
Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.
E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.
Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.
Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
Mia Couto
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.
E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.
Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.
Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
Mia Couto
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Poema XXXII
Se o amor é para os parvos,
os parvos hão-de ser felizes. Falo-te assim
porque não me sinto sem culpa e sou o pai
dos filhos que fiz às próprias dúvidas.
Se o amor é para os parvos, irei ter com eles,
tocar-lhes o coração como quem lava as mãos e a alma,
abraçá-los com os lábios, beijá-los
como sempre toquei as coisas simples: a abelha,
a espuma, a prata, o rosmaninho.
Se o amor é para os parvos, perante eles me dobro
como perante o vento se dobram as searas
e não sinto nas pálpebras o remorso
das noites que por amor passei em claro,
dos dias que por amor em mim deixei morrer
sem compreender mais nada: o rouxinol, a pedra,
o sol, a pétala, o verbo, o rio, o infinito.
Se o amor é para os parvos, sou parvo, sim, sou parvo,
um parvo profundo, obstinado parvo
cujo coração adormeceu diante da lareira do teu corpo,
alimentando-se da maior de todas as parvoíces:
o amor feito de fundas incertezas.
E são tantas!
Joaquim Pessoa
os parvos hão-de ser felizes. Falo-te assim
porque não me sinto sem culpa e sou o pai
dos filhos que fiz às próprias dúvidas.
Se o amor é para os parvos, irei ter com eles,
tocar-lhes o coração como quem lava as mãos e a alma,
abraçá-los com os lábios, beijá-los
como sempre toquei as coisas simples: a abelha,
a espuma, a prata, o rosmaninho.
Se o amor é para os parvos, perante eles me dobro
como perante o vento se dobram as searas
e não sinto nas pálpebras o remorso
das noites que por amor passei em claro,
dos dias que por amor em mim deixei morrer
sem compreender mais nada: o rouxinol, a pedra,
o sol, a pétala, o verbo, o rio, o infinito.
Se o amor é para os parvos, sou parvo, sim, sou parvo,
um parvo profundo, obstinado parvo
cujo coração adormeceu diante da lareira do teu corpo,
alimentando-se da maior de todas as parvoíces:
o amor feito de fundas incertezas.
E são tantas!
Joaquim Pessoa
terça-feira, 25 de setembro de 2012
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Quando nos separámos
Quando nos separámos
Em silêncio e choro
E quebrados ficámos
Num vazio duradouro
Pálido e frio teu rosto ficou,
O teu beijo frio como água;
E essa hora prenunciou
Toda esta mágoa.
O orvalho matinal
Que senti nessa hora
Era já um sinal
Do que sinto agora.
O teu voto foi quebrado,
Nova luz te conhece;
Oiço o teu nome falado
E como isso me entristece.
Sempre que oiço o teu nome
Abre-se esta ferida
Um arrepio que me consome
Porque me foste tão querida?
Eles não sabem que te conheci
E que foi um conhecer profundo
Sei que vou desistir de ti
Mas não o direi ao mundo.
Conhecemo-nos sem se saber
Em silêncio sofrerei
Que o teu coração poderia esquecer
E iludir-te, não sei.
Se te encontrar
Num ano vindouro
Como te deverei encarar?
Com silêncio e choro...
George Gordon Byron
Em silêncio e choro
E quebrados ficámos
Num vazio duradouro
Pálido e frio teu rosto ficou,
O teu beijo frio como água;
E essa hora prenunciou
Toda esta mágoa.
O orvalho matinal
Que senti nessa hora
Era já um sinal
Do que sinto agora.
O teu voto foi quebrado,
Nova luz te conhece;
Oiço o teu nome falado
E como isso me entristece.
Sempre que oiço o teu nome
Abre-se esta ferida
Um arrepio que me consome
Porque me foste tão querida?
Eles não sabem que te conheci
E que foi um conhecer profundo
Sei que vou desistir de ti
Mas não o direi ao mundo.
Conhecemo-nos sem se saber
Em silêncio sofrerei
Que o teu coração poderia esquecer
E iludir-te, não sei.
Se te encontrar
Num ano vindouro
Como te deverei encarar?
Com silêncio e choro...
George Gordon Byron
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Nosso Amor é Tudo!
Nosso Amor é Tudo!
Feito de respeito
ternura que não tem fim
carinho na medida certa
igual em você e em mim
Nenhuma sombra no caminho
um mundo de sonhos constante
uma serenidade sem par
uma cumplicidade marcante
Um amor sem barreiras
um carinho sem igual
este nosso amor é tudo
um amor muito especial
Somos tão seguros
nada abala nossa confiança
somos felizes assim
amando feito criança
De um jeito mais que puro
de um jeito maior que tudo
sou sua em cada pensamento
você é meu a todo momento
Juras... jamais
somos extremamente iguais
tudo em mim é só seu
tudo em você, foi feito pra mim
Ah! Este nosso amor
não precisa complementação
fomos feitos um para o outro
na medida exata de cada coração.
Célia Jardim
Feito de respeito
ternura que não tem fim
carinho na medida certa
igual em você e em mim
Nenhuma sombra no caminho
um mundo de sonhos constante
uma serenidade sem par
uma cumplicidade marcante
Um amor sem barreiras
um carinho sem igual
este nosso amor é tudo
um amor muito especial
Somos tão seguros
nada abala nossa confiança
somos felizes assim
amando feito criança
De um jeito mais que puro
de um jeito maior que tudo
sou sua em cada pensamento
você é meu a todo momento
Juras... jamais
somos extremamente iguais
tudo em mim é só seu
tudo em você, foi feito pra mim
Ah! Este nosso amor
não precisa complementação
fomos feitos um para o outro
na medida exata de cada coração.
Célia Jardim
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Amo-te muito, meu amor, e tanto
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,
tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Jorge de Sena
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,
tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Jorge de Sena
domingo, 9 de setembro de 2012
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Cereja louca
Olho-te...
Vermelha...e carnuda...
Fico palpitante de amores e gostos...
Atiro-me...gostosa...
As mãos agarram-te...
Rolo-te na ponta dos dedos...
Afago o corpo bem feito...
Olho-te com desejos sôfregos,
De comer-te toda...
Toda...até ao teu gemido,
A pedir calma na secura da boca...
Mordo-te...a pedir mais...
Olho-te, com todas as volúpias...
Trinco-te, mordo-te, esmago-te...
Engulo o teu doce licor...
Libertado com as carícias da língua...
Não resisto...
Cegas-me de prazer e gosto...
OH ! Cereja tentação.
José Luís Outono
Vermelha...e carnuda...
Fico palpitante de amores e gostos...
Atiro-me...gostosa...
As mãos agarram-te...
Rolo-te na ponta dos dedos...
Afago o corpo bem feito...
Olho-te com desejos sôfregos,
De comer-te toda...
Toda...até ao teu gemido,
A pedir calma na secura da boca...
Mordo-te...a pedir mais...
Olho-te, com todas as volúpias...
Trinco-te, mordo-te, esmago-te...
Engulo o teu doce licor...
Libertado com as carícias da língua...
Não resisto...
Cegas-me de prazer e gosto...
OH ! Cereja tentação.
José Luís Outono
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
POEMA (Matemáticamente FANTASTICO)
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
(Autor desconhecido)
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
(Autor desconhecido)
Poema
Tu fazes-me sorrir
quando me pedes um poema
e sem que te peça um tema
imploras que escreva ao meu sabor.
E eu deixo-me apanhar
nessa teia embrenhada no ar
imagino
a lágrima enxuta ao vapor
e a razão dessa louca exortação
onde consigo até chegar a tua dor.
E é nesse corpo exposto
que procuro a alma da tua poesia
para encontrar a palavra do teu próprio caminho.
Fico, nesse instante, sozinho
deleitado com a alegria
das palavras que me trazem a fantasia
e é assim que escrevo o teu momento.
Nascem as palavras que em mim… onde hão-de fluir
desabrocham num teu beijo a ruir
para que o poema seja o nosso alimento.
Paulo Afonso Ramos
quando me pedes um poema
e sem que te peça um tema
imploras que escreva ao meu sabor.
E eu deixo-me apanhar
nessa teia embrenhada no ar
imagino
a lágrima enxuta ao vapor
e a razão dessa louca exortação
onde consigo até chegar a tua dor.
E é nesse corpo exposto
que procuro a alma da tua poesia
para encontrar a palavra do teu próprio caminho.
Fico, nesse instante, sozinho
deleitado com a alegria
das palavras que me trazem a fantasia
e é assim que escrevo o teu momento.
Nascem as palavras que em mim… onde hão-de fluir
desabrocham num teu beijo a ruir
para que o poema seja o nosso alimento.
Paulo Afonso Ramos
Para ti
Para ti tenho tudo o que quiseres:
Uma harpa com cordas de cristal
Que só o vento sul pode tocar,
Um nome antigo que nunca ninguém disse
E um vinho em movimento circular.
Um planeta ainda por descobrir,
Que entrevejo nas noites mais vazias.
Uma aurora boreal petrificada
À tua porta, um canto de embalar
E um gesto louco a emergir do nada.
Tenho um comboio de madeira, uma cidade
Verde, verde, aberta e revoltada.
Uma sombra que desmaia no passeio,
As cores que ninguém vê no arco-íris
E um diamante com um coração no meio.
Tenho um segredo feito de marfim,
Uma batalha que ninguém perdeu,
O segmento de recta onde amanheces.
E uns olhos onde podes encontrar
O que não disse, para que o quisesses.
Mário Domingos
Uma harpa com cordas de cristal
Que só o vento sul pode tocar,
Um nome antigo que nunca ninguém disse
E um vinho em movimento circular.
Um planeta ainda por descobrir,
Que entrevejo nas noites mais vazias.
Uma aurora boreal petrificada
À tua porta, um canto de embalar
E um gesto louco a emergir do nada.
Tenho um comboio de madeira, uma cidade
Verde, verde, aberta e revoltada.
Uma sombra que desmaia no passeio,
As cores que ninguém vê no arco-íris
E um diamante com um coração no meio.
Tenho um segredo feito de marfim,
Uma batalha que ninguém perdeu,
O segmento de recta onde amanheces.
E uns olhos onde podes encontrar
O que não disse, para que o quisesses.
Mário Domingos
domingo, 2 de setembro de 2012
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Realidade
Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...
Florbela Espanca
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...
Florbela Espanca
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Ao perder a ti, tu e eu perdemos
Ao perder a ti,tu e eu perdemos.
Eu,
porque tu eras a que eu mais amava
E tu,
porque eu era o que te amava mais
Contudo,
de nós dois tu perdestes mais do que eu
Porque eu poderia amar outra como amava a ti
Mas a ti jamais te amarão como eu te amei.
Ernesto Cardenal
Eu,
porque tu eras a que eu mais amava
E tu,
porque eu era o que te amava mais
Contudo,
de nós dois tu perdestes mais do que eu
Porque eu poderia amar outra como amava a ti
Mas a ti jamais te amarão como eu te amei.
Ernesto Cardenal
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
O teu retrato
Deus fez a noite com o teu olhar,
Deus fez as ondas com os teus cabelos;
Com a tua coragem fez castelos
Que pôs, como defesa, à beira-mar.
Com um sorriso teu, fez o luar
(Que é sorriso de noite, ao viandante)
E eu que andava pelo mundo, errante,
Já não ando perdido em alto-mar!
Do céu de Portugal fez a tua alma!
E ao ver-te sempre assim, tão pura e calma,
Da minha Noite, eu fiz a Claridade!
Ó meu anjo de luz e de esperança,
Será em ti afinal que descansa
O triste fim da minha mocidade!
António Nobre
Deus fez as ondas com os teus cabelos;
Com a tua coragem fez castelos
Que pôs, como defesa, à beira-mar.
Com um sorriso teu, fez o luar
(Que é sorriso de noite, ao viandante)
E eu que andava pelo mundo, errante,
Já não ando perdido em alto-mar!
Do céu de Portugal fez a tua alma!
E ao ver-te sempre assim, tão pura e calma,
Da minha Noite, eu fiz a Claridade!
Ó meu anjo de luz e de esperança,
Será em ti afinal que descansa
O triste fim da minha mocidade!
António Nobre
Janela da Saudade
Não quero sentir saudade
Mas olhando da minha janela
Tudo me fala de ti...
O ar que me envolve
Impregnado dos teus amoras
Eleva o meu olhar
Até ao horizonte longínquo
Onde te escondes...
Não quero sentir saudade
Mas a minha janela
Está voltada para o Céu
Em que vives.
As nuvens desenham formas
Que fazem lembrar o teu rosto
E a chuva que bate na vidraça
És tu chamando por mim...
És brisa que me beija,
Núvem que me embala,
Trovão que me desperta...
Não não quero sentir saudade
Mas não posso fechar a minha janela!
Céu Cruz
Mas olhando da minha janela
Tudo me fala de ti...
O ar que me envolve
Impregnado dos teus amoras
Eleva o meu olhar
Até ao horizonte longínquo
Onde te escondes...
Não quero sentir saudade
Mas a minha janela
Está voltada para o Céu
Em que vives.
As nuvens desenham formas
Que fazem lembrar o teu rosto
E a chuva que bate na vidraça
És tu chamando por mim...
És brisa que me beija,
Núvem que me embala,
Trovão que me desperta...
Não não quero sentir saudade
Mas não posso fechar a minha janela!
Céu Cruz
Noite
Chegas sem avisar…
sempre a tempo de me abraçar.
És o ponto onde sempre me encontro
Mesmo sem ter de me perder
És vento que não me faz tonto
Mas que faz minha alma esmorecer
És o meu casulo de abrigo
Mesmo sem ter de me esconder
És manta que se enrola comigo
Com carinho pra adormecer
És um som que nada diz
És a cor que me aquece
És cama onde a conheci
És o amor que nunca esquece.
Chegas sem avisar…
Sempre a tempo de me abraçar.
Paulo Costa
sempre a tempo de me abraçar.
És o ponto onde sempre me encontro
Mesmo sem ter de me perder
És vento que não me faz tonto
Mas que faz minha alma esmorecer
És o meu casulo de abrigo
Mesmo sem ter de me esconder
És manta que se enrola comigo
Com carinho pra adormecer
És um som que nada diz
És a cor que me aquece
És cama onde a conheci
És o amor que nunca esquece.
Chegas sem avisar…
Sempre a tempo de me abraçar.
Paulo Costa
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Sem Remédio
Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!
Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!
Florbela Espanca
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!
Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!
Florbela Espanca
sábado, 18 de agosto de 2012
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Desperta-me de noite
Desperta-me de noite
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito
É rede a tua língua
Em sua teia
É vício as palavras
Com que falas
A trégua
A entrega
O disfarce
E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo
E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vai descobrindo vales.
Maria Teresa Horta
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito
É rede a tua língua
Em sua teia
É vício as palavras
Com que falas
A trégua
A entrega
O disfarce
E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo
E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vai descobrindo vales.
Maria Teresa Horta
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Longe de ti
Longe de ti
E no pensamento
Sei-te na pele que despi
A alma suspira com asas no tempo
E por ti renasci
Adormecem os dias...acordam as noites
Respiro-me para não te perder…
No silêncio onde te abraço
Toco-te (me) o desejo por mãos nuas... insanas
Guardo-te na nudez para não te esquecer
Sentidos apurados despem-se no espaço
Embebida no licor da tua boca...Eva pecadora
Nua e carinhosa,docemente maldosa...delicada
Amo-te...sonhadora
Na memória do corpo o tempo é frenesim
E tu...o infinito
Num voo dentro de mim
É no desejo da minha solidão, que oiço a saudade que grita por ti …
Paula Oz
E no pensamento
Sei-te na pele que despi
A alma suspira com asas no tempo
E por ti renasci
Adormecem os dias...acordam as noites
Respiro-me para não te perder…
No silêncio onde te abraço
Toco-te (me) o desejo por mãos nuas... insanas
Guardo-te na nudez para não te esquecer
Sentidos apurados despem-se no espaço
Embebida no licor da tua boca...Eva pecadora
Nua e carinhosa,docemente maldosa...delicada
Amo-te...sonhadora
Na memória do corpo o tempo é frenesim
E tu...o infinito
Num voo dentro de mim
É no desejo da minha solidão, que oiço a saudade que grita por ti …
Paula Oz
domingo, 24 de junho de 2012
Cavalo à solta
Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.
Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.
Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.
Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.
Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.
Minha ousadia
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.
José Carlos Ary dos Santos
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.
Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.
Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.
Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.
Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.
Minha ousadia
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.
José Carlos Ary dos Santos
quinta-feira, 21 de junho de 2012
O amor, um dever de passagem
Fui envenenado pela dor obscura do Futuro,
Eu sabia já que algo se preparava contra o meu corpo,
agora torço-me de agonia
nos versos deste poema.
Esta é a terra outrora fértil que os meus dedos dilaceram.
Os meus lábios são feitos desta terra,
são lama quente.
Vou partir pelo teu rosto para mais longe.
A minha fome é ter-te olhado
e estar cego. Agora eu sei que te abres para o fogo
do relâmpago.
Tenho a convicção dos temporais.
já não sei nem o que digo nem o que isso importa. Guia
dos meus cabelos rasos, da melancolia,
da vida efémera dos gestos.
Nesse dia fui melhor actor do que a minha sinceridade.
A cesura enerva-me no estômago.
Cortei de manhã as pontas dos dedos mas sei já que
elas crescerão de novo a proteger as unhas.
Talvez a vida seja estranha.
talvez a vida seja simples,
talvez a vida seja outra vida.
A linha branca da Beleza é a minha atitude que se transforma.
A violência do sono sobe
sobre o meu conhecimento.
Fui algures um horizonte na secessão das pálpebras.
Nuno Júdice
Eu sabia já que algo se preparava contra o meu corpo,
agora torço-me de agonia
nos versos deste poema.
Esta é a terra outrora fértil que os meus dedos dilaceram.
Os meus lábios são feitos desta terra,
são lama quente.
Vou partir pelo teu rosto para mais longe.
A minha fome é ter-te olhado
e estar cego. Agora eu sei que te abres para o fogo
do relâmpago.
Tenho a convicção dos temporais.
já não sei nem o que digo nem o que isso importa. Guia
dos meus cabelos rasos, da melancolia,
da vida efémera dos gestos.
Nesse dia fui melhor actor do que a minha sinceridade.
A cesura enerva-me no estômago.
Cortei de manhã as pontas dos dedos mas sei já que
elas crescerão de novo a proteger as unhas.
Talvez a vida seja estranha.
talvez a vida seja simples,
talvez a vida seja outra vida.
A linha branca da Beleza é a minha atitude que se transforma.
A violência do sono sobe
sobre o meu conhecimento.
Fui algures um horizonte na secessão das pálpebras.
Nuno Júdice
quinta-feira, 14 de junho de 2012
O poema que hei-de escrever para ti
O poema que hei-de escrever para ti, dando notícias
Do último reduto das coisas, das profundidades intactas,
Nasce, adormece e referve-me no sangue
Com a íntima lentidão dos teus seios desabrochando,
Porque, sei, não estás longe (nem da minha vida!), meu mistério fiel.
Hoje a nossa companhia é a tua inconsciência e o teu instinto: puro
Instinto que eu, de longe, embalo e velo
E acordará («em frente!») às primeiras palavras
Do poema, quando ele despontar.
Cristovam Pavia
Do último reduto das coisas, das profundidades intactas,
Nasce, adormece e referve-me no sangue
Com a íntima lentidão dos teus seios desabrochando,
Porque, sei, não estás longe (nem da minha vida!), meu mistério fiel.
Hoje a nossa companhia é a tua inconsciência e o teu instinto: puro
Instinto que eu, de longe, embalo e velo
E acordará («em frente!») às primeiras palavras
Do poema, quando ele despontar.
Cristovam Pavia
domingo, 10 de junho de 2012
Frémito do meu corpo a procurar-te
Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
Florbela Espanca
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
Florbela Espanca
quarta-feira, 6 de junho de 2012
terça-feira, 5 de junho de 2012
Amor
o teu rosto à minha espera, o teu rosto
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.
as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.
entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.
hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.
José Luís Peixoto
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.
as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.
entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.
hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.
José Luís Peixoto
sábado, 12 de maio de 2012
Ilumina-me - Pedro Abrunhosa
http://youtu.be/LJ-sQbLLra4
Gosto de ti como quem gosta do sábado,
Gosto de ti como quem abraça o fogo,
Gosto de ti como quem vence o espaço,
Como quem abre o regaço,
Como quem salta o vazio,
Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p'ra mim.
Gosto de ti como quem mata o degredo,
Gosto de ti como quem finta o futuro,
Gosto de ti como quem diz não ter medo,
Como quem mente em segredo,
Como quem baila na estrada,
Vestido feito de nada,
As mãos fartas do corpo,
Um beijo louco no porto
E uma cidade p'ra ti.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Gosto de ti como uma estrela no dia,
Gosto de ti quando uma nuvem começa,
Gosto de ti quando o teu corpo pedia,
Quando nas mãos me ardia,
Como silêncio na guerra,
Beijos de luz e de terra,
E num passado imperfeito,
Um fogo farto no peito
E um mundo longe de nós.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me
Gosto de ti como quem gosta do sábado,
Gosto de ti como quem abraça o fogo,
Gosto de ti como quem vence o espaço,
Como quem abre o regaço,
Como quem salta o vazio,
Um barco aporta no rio,
Um homem morre no esforço,
Sete colinas no dorso
E uma cidade p'ra mim.
Gosto de ti como quem mata o degredo,
Gosto de ti como quem finta o futuro,
Gosto de ti como quem diz não ter medo,
Como quem mente em segredo,
Como quem baila na estrada,
Vestido feito de nada,
As mãos fartas do corpo,
Um beijo louco no porto
E uma cidade p'ra ti.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Gosto de ti como uma estrela no dia,
Gosto de ti quando uma nuvem começa,
Gosto de ti quando o teu corpo pedia,
Quando nas mãos me ardia,
Como silêncio na guerra,
Beijos de luz e de terra,
E num passado imperfeito,
Um fogo farto no peito
E um mundo longe de nós.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me.
Enquanto não há amanhã,
Ilumina-me, Ilumina-me
Joelho
Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento
Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas
Maria Teresa Horta
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento
Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas
Maria Teresa Horta
Tarde de mais
Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...
Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!
Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!
E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Por que chegaste tarde, ó meu Amor?!...
Florbela Espanca
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...
Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!
Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!
E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Por que chegaste tarde, ó meu Amor?!...
Florbela Espanca
quarta-feira, 9 de maio de 2012
O amor é o amor
O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?
Alexandre O´Neill
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?
Alexandre O´Neill
terça-feira, 1 de maio de 2012
Paráfrase
este poema começa por te comparar
com as constelações,
com os seus nomes mágicos
e desenhos precisos,
e depois
um jogo de palavras indica
que sem ti a astronomia
é uma ciência infeliz.
Em seguida, duas metáforas
introduzem o tema da luz
e dos contrastes
petrarquistas que existem
na mulher amada,
no refúgio triste da imaginação.
A segunda estrofe sugere
que a diversidade de seres vivos
prova a existência de Deus
e a tua, ao mesmo tempo
que toma um por um
os atributos
que participam da tua natureza
e do espaço criador
do teu silêncio.
Uma hipérbole, finalmente,
diz que me fazes muita falta
Pedro Mexia
com as constelações,
com os seus nomes mágicos
e desenhos precisos,
e depois
um jogo de palavras indica
que sem ti a astronomia
é uma ciência infeliz.
Em seguida, duas metáforas
introduzem o tema da luz
e dos contrastes
petrarquistas que existem
na mulher amada,
no refúgio triste da imaginação.
A segunda estrofe sugere
que a diversidade de seres vivos
prova a existência de Deus
e a tua, ao mesmo tempo
que toma um por um
os atributos
que participam da tua natureza
e do espaço criador
do teu silêncio.
Uma hipérbole, finalmente,
diz que me fazes muita falta
Pedro Mexia
sábado, 28 de abril de 2012
O meu tempo é eterno
O meu tempo é eterno.
Habito os céus
Que as aves deixaram vazios
Há já tanto tempo.
Talvez não saibas
Que povoas os meus pensamentos,
Que tomas forma nos meus sonhos.
Quando te vier buscar
Tomarei tuas mãos,
Trocaremos palavras
Pela eternidade do nosso olhar…
Eu sou o anjo do desespero.
Paulo Eduardo Campos
Habito os céus
Que as aves deixaram vazios
Há já tanto tempo.
Talvez não saibas
Que povoas os meus pensamentos,
Que tomas forma nos meus sonhos.
Quando te vier buscar
Tomarei tuas mãos,
Trocaremos palavras
Pela eternidade do nosso olhar…
Eu sou o anjo do desespero.
Paulo Eduardo Campos
Eu ontem vi-te
Eu ontem vi-te...
Andava a luz
Do teu olhar,
Que me seduz
A divagar
Em torno de mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo, amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse
fulgor assim.
Ângelo de Lima
Andava a luz
Do teu olhar,
Que me seduz
A divagar
Em torno de mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo, amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse
fulgor assim.
Ângelo de Lima
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Ser que nunca fui
Começo a chorar
do que não finjo
porque me enamorei
de caminhos
por onde não fui
e regressei
sem nunca ter partido
para o norte aceso
no arremesso da esperança
Nessas noites
em que de sombra
me disfarcei
e inciteo os objectos
na procura de outra cor
encorajei-me
a um luar sem pausa
e vencendo o tempo que se fez tarde
disse: o meu corpo começa aqui
e apontei para nada
porque me havia convertido ao sonho
de ser igual
aos que nunca são iguais
Faltou-me viver onde estava
mas ensinei-me
a não estar completamente onde estive
e a cidade dormindo em mim
não me vi entrar
na cidade em que em mim despertava
Houve lágrimas que não matei
porque me fiz
de gestos que não prometi
e na noite abrindo-se
como toalha generosa
servi-me do meu desassossego
e assim me acrescentei
aos que sendo toda a gente
não foram nunca como toda a gente
Mia Couto
do que não finjo
porque me enamorei
de caminhos
por onde não fui
e regressei
sem nunca ter partido
para o norte aceso
no arremesso da esperança
Nessas noites
em que de sombra
me disfarcei
e inciteo os objectos
na procura de outra cor
encorajei-me
a um luar sem pausa
e vencendo o tempo que se fez tarde
disse: o meu corpo começa aqui
e apontei para nada
porque me havia convertido ao sonho
de ser igual
aos que nunca são iguais
Faltou-me viver onde estava
mas ensinei-me
a não estar completamente onde estive
e a cidade dormindo em mim
não me vi entrar
na cidade em que em mim despertava
Houve lágrimas que não matei
porque me fiz
de gestos que não prometi
e na noite abrindo-se
como toalha generosa
servi-me do meu desassossego
e assim me acrescentei
aos que sendo toda a gente
não foram nunca como toda a gente
Mia Couto
Para ti
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto
terça-feira, 24 de abril de 2012
O Teu Brinquedo - Paulo Gonzo
http://youtu.be/o05awaaZ618
Eu vou fazer segredo
Até ao teu jantar
Só tu é que não sabes
O que eu te vou dar
Espera um pouco
Mas.....espera um pouco
Pedi que me o guardassem
Até eu confirmar
A cor de que mais gostas
Calma..... espera um pouco
Mas.....espera um pouco
Quem é que faz
Por ti o que eu faço ?
Quem é que vai cair
Nos meus braços ?
Quem é que faz
Por ti o que eu faço ?
Quem é que vai cair
Nos meus braços ?
Já é quase de dia
É hoje que te vou dar
O teu brinquedo novo
Calma ........já falta pouco
Mas......já falta pouco
Quem é que faz
Por ti o que eu faço ?
Quem é que vai cair
Nos meus braços ?
Eu vou fazer segredo
Até ao teu jantar
Só tu é que não sabes
O que eu te vou dar
Espera um pouco
Mas.....espera um pouco
Pedi que me o guardassem
Até eu confirmar
A cor de que mais gostas
Calma..... espera um pouco
Mas.....espera um pouco
Quem é que faz
Por ti o que eu faço ?
Quem é que vai cair
Nos meus braços ?
Quem é que faz
Por ti o que eu faço ?
Quem é que vai cair
Nos meus braços ?
Já é quase de dia
É hoje que te vou dar
O teu brinquedo novo
Calma ........já falta pouco
Mas......já falta pouco
Quem é que faz
Por ti o que eu faço ?
Quem é que vai cair
Nos meus braços ?
O meu tempo é eterno
O meu tempo é eterno.
Habito os céus
Que as aves deixaram vazios
Há já tanto tempo.
Talvez não saibas
Que povoas os meus pensamentos,
Que tomas forma nos meus sonhos.
Quando te vier buscar
Tomarei tuas mãos,
Trocaremos palavras
Pela eternidade do nosso olhar…
Eu sou o anjo do desespero.
Paulo Eduardo Campos
Habito os céus
Que as aves deixaram vazios
Há já tanto tempo.
Talvez não saibas
Que povoas os meus pensamentos,
Que tomas forma nos meus sonhos.
Quando te vier buscar
Tomarei tuas mãos,
Trocaremos palavras
Pela eternidade do nosso olhar…
Eu sou o anjo do desespero.
Paulo Eduardo Campos
Estou cada vez mais cercado pelos astros
Estou cada vez mais cercado pelos astros
sou um frágil satélite do tempo
Como poderei saber o que não sei
o que nunca saberei se habito apenas
o vazio da minha ignorância circular
Procuro a identidade numa imprevisível estrela
no coração do instante
no rasgão fugidio do poema
Cada vez mais os círculos tenazes e monótonos
de um mundo que já não é dos deuses
nem dos homens
se apertam em torno do meu corpo sedento
de um espaço vivo de profundo universo
e de nascentes de silêncio e de estrelas de silêncio
Cada vez mais sou um ponto vazio
emparedado pelos círculos dos astros
e pelas linhas dissonantes do tráfego
um monossílabo no meio do nevoeiro
uma balança que só pesa a sua sombra
Mas o desejo é uma nua serpente sem veneno
que procura o aluvião para além da areia estéril
e as palavras são gritos vermelhos que germinam
sobre o abismo entre líquenes e espumas
deslizando sobre o tronco da matéria inicial
António Ramos Rosa
sou um frágil satélite do tempo
Como poderei saber o que não sei
o que nunca saberei se habito apenas
o vazio da minha ignorância circular
Procuro a identidade numa imprevisível estrela
no coração do instante
no rasgão fugidio do poema
Cada vez mais os círculos tenazes e monótonos
de um mundo que já não é dos deuses
nem dos homens
se apertam em torno do meu corpo sedento
de um espaço vivo de profundo universo
e de nascentes de silêncio e de estrelas de silêncio
Cada vez mais sou um ponto vazio
emparedado pelos círculos dos astros
e pelas linhas dissonantes do tráfego
um monossílabo no meio do nevoeiro
uma balança que só pesa a sua sombra
Mas o desejo é uma nua serpente sem veneno
que procura o aluvião para além da areia estéril
e as palavras são gritos vermelhos que germinam
sobre o abismo entre líquenes e espumas
deslizando sobre o tronco da matéria inicial
António Ramos Rosa
domingo, 22 de abril de 2012
sexta-feira, 20 de abril de 2012
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Nenhuma morte apagará os beijos
Nenhuma morte apagará os beijos
e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas clandestinas da grande cidade livre
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor,
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.
Aí estarão de novo as nossas mãos.
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.
Eternamente apixonados, meu amor. Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma líquida e atormentada
desvenderá em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixão os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possível.
Joaquim Pessoa
e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas clandestinas da grande cidade livre
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor,
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.
Aí estarão de novo as nossas mãos.
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.
Eternamente apixonados, meu amor. Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma líquida e atormentada
desvenderá em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixão os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possível.
Joaquim Pessoa
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
domingo, 15 de abril de 2012
Viagem
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
Miguel Torga
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
Miguel Torga
Gostava de morar na tua pele
Gostava de morar na tua pele
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.
Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.
Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.
Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém.
Manuel Alegre
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.
Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.
Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.
Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém.
Manuel Alegre
A morte do amor
Se eu pudesse voltar atrás
Não te amava.
É tão mais fácil
Manter o coração quieto no peito
Como se todos os dias
E todas as horas fossem iguais.
A inquietação de me faltares
Deixa os meus olhos tristes
Esperando que aceites
A mão que te estendo.
Mas tu não estás.
Eu parti com a última onda
Sem saber se voltarei um dia,
E o caminho que os nossos pés
Juntos percorreram
Choram a saudade
De ter morrido o amor
Quando dissemos adeus.
Ana Brilha
Não te amava.
É tão mais fácil
Manter o coração quieto no peito
Como se todos os dias
E todas as horas fossem iguais.
A inquietação de me faltares
Deixa os meus olhos tristes
Esperando que aceites
A mão que te estendo.
Mas tu não estás.
Eu parti com a última onda
Sem saber se voltarei um dia,
E o caminho que os nossos pés
Juntos percorreram
Choram a saudade
De ter morrido o amor
Quando dissemos adeus.
Ana Brilha
sexta-feira, 13 de abril de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Diário de um homem maduro no ginásio
Acabei de completar 50 anos. A minha mulher ofereceu-me um voucher de
uma semana num dos melhores ginásios. Estou em excelente forma mas
achei boa idéia diminuir a minha "barriguinha". Fiz a marcação dessa
semana no ginásio. A personal trainer que me vai seguir chama-se
Catarina, tem 26 anos, é monitora de aeróbica e modelo.
Recomendaram-me que escrevesse um diário para documentar o meu
progresso, que transcrevo a seguir.
Segunda-feira
Com muita dificuldade levantei-me às 6 da manhã. O esforço valeu a
pena. A monitora parece uma deusa grega: loira, olhos azuis, grande
sorriso, lábios carnudos e corpo escultural. Primeiro mostrou-me
todos os aparelhos de ginástica. Comecei pela bicicleta. Ao fim de 5
minutos mediu as minhas pulsações e ficou alarmada porque estavam muito
aceleradas. Mas não era da bicicleta: era por causa dela, por estar
vestida com uma malha de lycra justíssima que lhe moldava as formas
todas. Gostei do exercício. Ela consegue dar-me imensa motivação.
Começo a sentir uma dor constante na barriga de tanto a encolher.
Terça-feira
Tomei o pequeno almoço e fui para o ginásio. A monitora estava melhor
que nunca. Comecei por levantar uma barra de metal. Depois ela
atreveu-se a pôr pesos!!!
Tinha as pernas fracas mas consegui completar UM QUILÓMETRO na
passadeira. O sorriso arrebatador que a monitora me deu no fim da
manhã convenceu-me de que todo este exercício vale a pena... É uma
vida nova para mim.
Quarta-feira
A única forma de conseguir escovar os dentes foi segurar na escova
com os cotovelos apoiados no lavatório e mexer a cabeça de um lado para o
outro. Conduzir também não foi fácil: estender os braços para meter
as mudanças foi um esforço digno de Hércules. Dói-me o peito. As plantas
dos pés doem de cada vez que carrego nos pedais. Fisicamente
diminuído, estacionei o carro no lugar reservado para deficientes,
até porque só consigo andar a coxear. A monitora estava com a voz um
pouco aguda. Quando grita incomoda-me muito. Quando me pôs um arnês para
fazer escalada todo o corpo me doeu. Para que é que alguém inventa um
aparelho para fazer escalada quando isso ficou obsoleto desde a
invenção dos elevadores? A monitora disse-me que este exercício me ia
ajudar a ficar em forma, ou a gozar a vida...
Quinta-feira
A monitora estava à minha espera com os seus dentes de vampiro
horríveis. Cheguei meia-hora atrasado: foi o tempo que demorei para
conseguir calçar os sapatos. A desgraçada pôs-me a trabalhar com os
pesos. Quando se distraíu, fui-me refugiar na casa de banho. A gaja
mandou um outro monitor ir buscar-me.
Como castigo pôs-me na máquina de remar... Estou todo rebentado.
Sexta-feira
Odeio essa desgraçada. Estúpida, magra, anémica, chata e feminista
sem cérebro! Se houvesse uma parte do meu corpo que eu pudesse mexer sem
sentir uma dor excruciante, partia ao meio essa sacana. Quis que eu
trabalhasse os meus trícipetes... EU NEM SABIA O QUE ERA ESSA COISA
DOS TRÍCIPETES!!! E se não bastasse colocar-me pesos nos braços,
pôs-me aquelas tretas das barras... Desmaiei na bicicleta. Acordei
numa maca. Uma nutricionista, uma idiota com cara de estúpida, deu-me
uma seca sobre alimentação saudável.
Sábado
A filha da mãe deixou-me uma mensagem no telemóvel com a sua vozinha
de lésbica assumida a perguntar por que é que eu não apareci. Só de
ouvir aquela vozinha fiquei com ganas de partir o telemóvel, mas não
tive forças para o levantar. Carregar nas teclas do comando da
televisão para fazer zapping está a ser um esforço tremendo...
Domingo
Não me consigo levantar.
Pedi a um amigo meu para agradecer a Deus por mim na missa por ter
sobrevivido a esta semana que felizmente já acabou. Rezei para que no
ano que vem a desgraçada da minha mulher me dê qualquer coisa um
pouco mais divertida, como um tratamento dentário, um cateterismo ou até
mesmo um exame à próstata.
uma semana num dos melhores ginásios. Estou em excelente forma mas
achei boa idéia diminuir a minha "barriguinha". Fiz a marcação dessa
semana no ginásio. A personal trainer que me vai seguir chama-se
Catarina, tem 26 anos, é monitora de aeróbica e modelo.
Recomendaram-me que escrevesse um diário para documentar o meu
progresso, que transcrevo a seguir.
Segunda-feira
Com muita dificuldade levantei-me às 6 da manhã. O esforço valeu a
pena. A monitora parece uma deusa grega: loira, olhos azuis, grande
sorriso, lábios carnudos e corpo escultural. Primeiro mostrou-me
todos os aparelhos de ginástica. Comecei pela bicicleta. Ao fim de 5
minutos mediu as minhas pulsações e ficou alarmada porque estavam muito
aceleradas. Mas não era da bicicleta: era por causa dela, por estar
vestida com uma malha de lycra justíssima que lhe moldava as formas
todas. Gostei do exercício. Ela consegue dar-me imensa motivação.
Começo a sentir uma dor constante na barriga de tanto a encolher.
Terça-feira
Tomei o pequeno almoço e fui para o ginásio. A monitora estava melhor
que nunca. Comecei por levantar uma barra de metal. Depois ela
atreveu-se a pôr pesos!!!
Tinha as pernas fracas mas consegui completar UM QUILÓMETRO na
passadeira. O sorriso arrebatador que a monitora me deu no fim da
manhã convenceu-me de que todo este exercício vale a pena... É uma
vida nova para mim.
Quarta-feira
A única forma de conseguir escovar os dentes foi segurar na escova
com os cotovelos apoiados no lavatório e mexer a cabeça de um lado para o
outro. Conduzir também não foi fácil: estender os braços para meter
as mudanças foi um esforço digno de Hércules. Dói-me o peito. As plantas
dos pés doem de cada vez que carrego nos pedais. Fisicamente
diminuído, estacionei o carro no lugar reservado para deficientes,
até porque só consigo andar a coxear. A monitora estava com a voz um
pouco aguda. Quando grita incomoda-me muito. Quando me pôs um arnês para
fazer escalada todo o corpo me doeu. Para que é que alguém inventa um
aparelho para fazer escalada quando isso ficou obsoleto desde a
invenção dos elevadores? A monitora disse-me que este exercício me ia
ajudar a ficar em forma, ou a gozar a vida...
Quinta-feira
A monitora estava à minha espera com os seus dentes de vampiro
horríveis. Cheguei meia-hora atrasado: foi o tempo que demorei para
conseguir calçar os sapatos. A desgraçada pôs-me a trabalhar com os
pesos. Quando se distraíu, fui-me refugiar na casa de banho. A gaja
mandou um outro monitor ir buscar-me.
Como castigo pôs-me na máquina de remar... Estou todo rebentado.
Sexta-feira
Odeio essa desgraçada. Estúpida, magra, anémica, chata e feminista
sem cérebro! Se houvesse uma parte do meu corpo que eu pudesse mexer sem
sentir uma dor excruciante, partia ao meio essa sacana. Quis que eu
trabalhasse os meus trícipetes... EU NEM SABIA O QUE ERA ESSA COISA
DOS TRÍCIPETES!!! E se não bastasse colocar-me pesos nos braços,
pôs-me aquelas tretas das barras... Desmaiei na bicicleta. Acordei
numa maca. Uma nutricionista, uma idiota com cara de estúpida, deu-me
uma seca sobre alimentação saudável.
Sábado
A filha da mãe deixou-me uma mensagem no telemóvel com a sua vozinha
de lésbica assumida a perguntar por que é que eu não apareci. Só de
ouvir aquela vozinha fiquei com ganas de partir o telemóvel, mas não
tive forças para o levantar. Carregar nas teclas do comando da
televisão para fazer zapping está a ser um esforço tremendo...
Domingo
Não me consigo levantar.
Pedi a um amigo meu para agradecer a Deus por mim na missa por ter
sobrevivido a esta semana que felizmente já acabou. Rezei para que no
ano que vem a desgraçada da minha mulher me dê qualquer coisa um
pouco mais divertida, como um tratamento dentário, um cateterismo ou até
mesmo um exame à próstata.
Procuro-te
Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.
Eugénio de Andrade
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.
Eugénio de Andrade
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Penso em ti no silêncio da noite quando tudo é nada
Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,
E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio,
Então, sozinho de mim, passageiro parado
De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti.
Todo o passado, em que foste um momento eterno
E como este silêncio de tudo.
Todo o perdido, em que foste o que mais perdi,
É como estes ruídos,
Todo o inútil, em que foste o que não houvera de ser
É como o nada por ser neste silêncio nocturno.
Tenho visto morrer, ou ouvido que morrem,
Quantos amei ou conheci,
Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram
Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa;
Ou um [...] assustado e mudo,
E o mundo hoje para mim é um cemitério de noite
Branco e negro de campas e [...] e de luar alheio
E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti.
Álvaro de Campos
E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio,
Então, sozinho de mim, passageiro parado
De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti.
Todo o passado, em que foste um momento eterno
E como este silêncio de tudo.
Todo o perdido, em que foste o que mais perdi,
É como estes ruídos,
Todo o inútil, em que foste o que não houvera de ser
É como o nada por ser neste silêncio nocturno.
Tenho visto morrer, ou ouvido que morrem,
Quantos amei ou conheci,
Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram
Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa;
Ou um [...] assustado e mudo,
E o mundo hoje para mim é um cemitério de noite
Branco e negro de campas e [...] e de luar alheio
E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti.
Álvaro de Campos
terça-feira, 10 de abril de 2012
terça-feira, 3 de abril de 2012
domingo, 1 de abril de 2012
Chamar-te meu amor
Dizer que tudo em ti é movimento
e que há corças nas selvas em redor
do amor que às vezes faço em pensamento
ou do que eu penso quando faço amor.
Dizer que em tudo escuto a tua voz
no mar no vento na boca das searas
o maior amor do mundo somos nós
cobrindo a solidão de pedras raras.
Dizer tudo o que eu digo nunca basta
pois para ti não chegam as palavras
meu amor é uma expressão que já está gasta
mas tem sempre um aroma de ervas bravas.
É por ti tudo o que faço e digo e chamo
por ti eu tudo invento e tudo esqueço
dou tudo o que há em mim quando te amo
mas nem sei meu amor se te conheço.
Joaquim Pessoa
e que há corças nas selvas em redor
do amor que às vezes faço em pensamento
ou do que eu penso quando faço amor.
Dizer que em tudo escuto a tua voz
no mar no vento na boca das searas
o maior amor do mundo somos nós
cobrindo a solidão de pedras raras.
Dizer tudo o que eu digo nunca basta
pois para ti não chegam as palavras
meu amor é uma expressão que já está gasta
mas tem sempre um aroma de ervas bravas.
É por ti tudo o que faço e digo e chamo
por ti eu tudo invento e tudo esqueço
dou tudo o que há em mim quando te amo
mas nem sei meu amor se te conheço.
Joaquim Pessoa
Sempre amei por palavras muito mais
Sempre amei por palavras muito mais
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero
Alice Vieira
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero
Alice Vieira
quarta-feira, 28 de março de 2012
Eu sei, não te conheço mas existes
Eu sei, não te conheço mas existes.
por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.
Não me perguntes como mas ainda me lembro
quando no outono cresceram no teu peito
duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.
Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito
e desagua em ti,
porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável,
uma outra maneira de habitares
em todas as palavras do meu canto.
Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.
Joaquim Pessoa
por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.
Não me perguntes como mas ainda me lembro
quando no outono cresceram no teu peito
duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.
Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito
e desagua em ti,
porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável,
uma outra maneira de habitares
em todas as palavras do meu canto.
Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.
Joaquim Pessoa
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Eugénio de Andrade
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Eugénio de Andrade
Paulo Gonzo - Sei-te De Cor
http://www.youtube.com/watch?v=NbqoM8cykBA&feature=related
Sei de cor, cada traço
Do teu rosto, do teu olhar
Cada sombra, da tua voz
E cada silêncio,
Cada gesto que tu faças, meu amor
Sei-te de cor
Sei que cada capricho teu
E o que não dizes ou preferes calar
Deixa-me adivinhar
Não digas que o louco sou eu
Se for tanto melhor, amor
Sei-te de cor
Sei por que becos te escondes
Sei ao promenor
O teu melhor e o pior
Sei de ti mais do queria
Numa palavra diria
Sei-te de cor
Sei de cor, cada traço
Do teu rosto, do teu olhar
Cada sombra, da tua voz
E cada silêncio,
Cada gesto que tu faças, meu amor
Sei-te de cor
Sei que cada capricho teu
E o que não dizes ou preferes calar
Deixa-me adivinhar
Não digas que o louco sou eu
Se for tanto melhor, amor
Sei-te de cor
Sei por que becos te escondes
Sei ao promenor
O teu melhor e o pior
Sei de ti mais do queria
Numa palavra diria
Sei-te de cor
Na rua
Ninguém por certo adivinha
como essa Desconhecida,
entre estes braços prendida,
jurava ser toda minha...
Minha sempre! - E em voz baixinha:
- «Tua ainda além da vida!...»
Hoje fita-me, esquecida
do grande amor que me tinha.
Juramos ser imortal
esse amor estranho e louco...
E o grande amor, afinal,
(Com que desprezo me lembro!)
foi morrendo pouco a pouco,
- como uma tarde de Setembro...
Manuel Laranjeira
como essa Desconhecida,
entre estes braços prendida,
jurava ser toda minha...
Minha sempre! - E em voz baixinha:
- «Tua ainda além da vida!...»
Hoje fita-me, esquecida
do grande amor que me tinha.
Juramos ser imortal
esse amor estranho e louco...
E o grande amor, afinal,
(Com que desprezo me lembro!)
foi morrendo pouco a pouco,
- como uma tarde de Setembro...
Manuel Laranjeira
No meio de ti
No meio de ti, largo-me na tua sede
E enlevo a razão deste sorriso teu
Porque afago a essência de nós...
São páginas de segredos musicais
São olhares húmidos e fogosos do teu rosto
São devaneios cromáticos de surpresa...
E quedo-me no teu parágrafo luz
Lugar cativo orlado da flor nupcial
Fogo de querer e voo de êxtase...
No meio de ti, adiciono-te flor de mim
Alfazema odor de encanto guardado
Margem chamativa do meu navegar...
José Luís Outono
E enlevo a razão deste sorriso teu
Porque afago a essência de nós...
São páginas de segredos musicais
São olhares húmidos e fogosos do teu rosto
São devaneios cromáticos de surpresa...
E quedo-me no teu parágrafo luz
Lugar cativo orlado da flor nupcial
Fogo de querer e voo de êxtase...
No meio de ti, adiciono-te flor de mim
Alfazema odor de encanto guardado
Margem chamativa do meu navegar...
José Luís Outono
terça-feira, 27 de março de 2012
Mafalda Veiga - Cada Lugar Teu (ao vivo)
http://www.youtube.com/watch?v=ZHM5VJVtNd0
Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar
Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar
Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só
Eu Vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar
Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar
Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar
Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só
Eu Vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar
Uma carta ao cair da tarde
Meu amor,
O oceano não precisa das tuas lágrimas para ficar mais salgado.
Nem os céus nem as estrelas ficarão mais luminosos
Do que o brilho dos teus olhos.
Mas a minha vida ficará mais deserta
Sem o aconchego dos teus braços
E o suspiro melancólico da tua voz em meus ouvidos.
Portanto, não se esqueça de que
O oceano sempre toca o céu no infinito das paixões,
Assim como eu infinitivamente enlaço o corpo da tua alma
Despudoradamente através do erotismo que brota ávido
No corpo das minhas palavras.
Carlos Eduardo leal
O oceano não precisa das tuas lágrimas para ficar mais salgado.
Nem os céus nem as estrelas ficarão mais luminosos
Do que o brilho dos teus olhos.
Mas a minha vida ficará mais deserta
Sem o aconchego dos teus braços
E o suspiro melancólico da tua voz em meus ouvidos.
Portanto, não se esqueça de que
O oceano sempre toca o céu no infinito das paixões,
Assim como eu infinitivamente enlaço o corpo da tua alma
Despudoradamente através do erotismo que brota ávido
No corpo das minhas palavras.
Carlos Eduardo leal
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny
segunda-feira, 26 de março de 2012
segunda-feira, 19 de março de 2012
Alma perdida
Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!
Florbela Espanca
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!
Florbela Espanca
domingo, 18 de março de 2012
sexta-feira, 16 de março de 2012
Dúvida
Anoiteceu.
Aqui sentado, pensava
Na minha vida;
Nesta tristeza arrastada
Que ninguém quer alegrar;
Nesta fogueira cercada
Duma invernia polar.
E a mim mesmo perguntava
Se dessa vida ficava
Pelo menos uma baba
Igual à do caracol.
Uma excreção que brilhasse
Quando nela reparasse
A luz do sol...
Miguel Torga
Aqui sentado, pensava
Na minha vida;
Nesta tristeza arrastada
Que ninguém quer alegrar;
Nesta fogueira cercada
Duma invernia polar.
E a mim mesmo perguntava
Se dessa vida ficava
Pelo menos uma baba
Igual à do caracol.
Uma excreção que brilhasse
Quando nela reparasse
A luz do sol...
Miguel Torga
quinta-feira, 15 de março de 2012
Beijo os teus seios
Beijo os teus seios
e a tarde comove-se como se tocassem sinos.
Levanto a tua cabeça entre os meus dedos
e abro contra o dia os teus cabelos,
e logo as aves do silêncio levantam voo
e dançam loucas em volta dos teus olhos,
e a tua boca aperta-se,
morde
a minha boca
enquanto as minhas mãos vão procurando
nenhum deus à flor da tua pele
por esse caminho branco onde agonizam éguas
vestidas de primavera.
Joaquim Pessoa
e a tarde comove-se como se tocassem sinos.
Levanto a tua cabeça entre os meus dedos
e abro contra o dia os teus cabelos,
e logo as aves do silêncio levantam voo
e dançam loucas em volta dos teus olhos,
e a tua boca aperta-se,
morde
a minha boca
enquanto as minhas mãos vão procurando
nenhum deus à flor da tua pele
por esse caminho branco onde agonizam éguas
vestidas de primavera.
Joaquim Pessoa
quarta-feira, 14 de março de 2012
Tu és a esperança, a madrugada
Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de setembro,
quando a luz é perfeita e mais dourada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.
Eugénio de Andrade
Nasceste nas tardes de setembro,
quando a luz é perfeita e mais dourada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.
Eugénio de Andrade
sexta-feira, 9 de março de 2012
Em ti
Em ti o chão exausto de meu desejo. A flor aberta
dos sentidos. A calidez do lume. A água. O vinho.
O sangue a estuar em fúria. O grito do sol
que em transe de labareda fulge e irradia.
A extensão de tantos vales
e colinas. Fragrantes. Infinitas.
Os pomos saborosos, repartidos.
Os gomos. Os sumos ardorosos.
Os bosques impregnados de maresia.
A placidez molhada das ervas.
O luzir loiro das searas pelo vento devastadas.
O estio. O seu zénite. A sua vertigem.
Em ti a inclinação dos ramos. A translucidez do verde.
O derrame da seiva. O estremecer das raízes.
O musgo despontando. O aveludado dos troncos.
Os álamos. Os plátanos. E outras núbeis melodias.
O espreguiçar incandescente dos rios.
O êxtase das aves altas anunciando o fervor
de um beijo. De um afago. De uma carícia.
O hálito das corolas. As sépalas. Os estames.
O brilho e o odor silvestre da resina. A relva sedosa.
A primavera inebriada com sua própria brisa.
Em ti o menear da terra. As eiras. O feno flamante.
O irromper dos brotos. O despertar dos cálices.
A embriaguez do nardo. E da acácia, festiva.
O matiz das cores na várzea repercutido.
O som dos mananciais posto a descoberto.
O manar das fontes em euforia.
Os céus azuis a derramarem hinos.
O trinado agudo da andorinha.
O acenar obstinado dos choupos.
As centelhas rubras do crepúsculo.
O perfume juvenil das vinhas.
Em ti o delírio das ondas. Das espumas.
As fogueiras ateadas. Os aromas fulvos.
O sopro das chamas. O pão aceso. As espigas.
Os campos de lilases que se estendem
numa queimadura de aurora.
As pétalas humedecidas.
O incêndio azul do orvalho.
A alvura da açucena na manhã florida.
Em ti, amada, celebro a memória de todas as coisas vivas.
Gonçalo Salvado
dos sentidos. A calidez do lume. A água. O vinho.
O sangue a estuar em fúria. O grito do sol
que em transe de labareda fulge e irradia.
A extensão de tantos vales
e colinas. Fragrantes. Infinitas.
Os pomos saborosos, repartidos.
Os gomos. Os sumos ardorosos.
Os bosques impregnados de maresia.
A placidez molhada das ervas.
O luzir loiro das searas pelo vento devastadas.
O estio. O seu zénite. A sua vertigem.
Em ti a inclinação dos ramos. A translucidez do verde.
O derrame da seiva. O estremecer das raízes.
O musgo despontando. O aveludado dos troncos.
Os álamos. Os plátanos. E outras núbeis melodias.
O espreguiçar incandescente dos rios.
O êxtase das aves altas anunciando o fervor
de um beijo. De um afago. De uma carícia.
O hálito das corolas. As sépalas. Os estames.
O brilho e o odor silvestre da resina. A relva sedosa.
A primavera inebriada com sua própria brisa.
Em ti o menear da terra. As eiras. O feno flamante.
O irromper dos brotos. O despertar dos cálices.
A embriaguez do nardo. E da acácia, festiva.
O matiz das cores na várzea repercutido.
O som dos mananciais posto a descoberto.
O manar das fontes em euforia.
Os céus azuis a derramarem hinos.
O trinado agudo da andorinha.
O acenar obstinado dos choupos.
As centelhas rubras do crepúsculo.
O perfume juvenil das vinhas.
Em ti o delírio das ondas. Das espumas.
As fogueiras ateadas. Os aromas fulvos.
O sopro das chamas. O pão aceso. As espigas.
Os campos de lilases que se estendem
numa queimadura de aurora.
As pétalas humedecidas.
O incêndio azul do orvalho.
A alvura da açucena na manhã florida.
Em ti, amada, celebro a memória de todas as coisas vivas.
Gonçalo Salvado
quinta-feira, 1 de março de 2012
Rimar contigo...
Hoje apetece-me
Que rimes comigo...
Que cada olhar meu
Encontre no teu
Um desejo comum
De poesia sem palavras...
Que cada passo juntos
Na interminável jornada
Nos faça tropeçar
Sempre na mesma quadra
E no mesmo verso
Do entrelaçar das nossas mãos...
Que em cada beijo trocado
Haja um soneto inacabado
No prazer das estrofes
Ainda por inventar...
E também na prosa solta
E na métrica contida...
Do poema AMOR
Que fazemos vida..
Grácia Nunes
Que rimes comigo...
Que cada olhar meu
Encontre no teu
Um desejo comum
De poesia sem palavras...
Que cada passo juntos
Na interminável jornada
Nos faça tropeçar
Sempre na mesma quadra
E no mesmo verso
Do entrelaçar das nossas mãos...
Que em cada beijo trocado
Haja um soneto inacabado
No prazer das estrofes
Ainda por inventar...
E também na prosa solta
E na métrica contida...
Do poema AMOR
Que fazemos vida..
Grácia Nunes
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Sabes?
- Sabes como se escreve amor?
- Sim… Assim… Uhmmmmmmmmm
- Sabes como se diz amor?
- Sei… assim… Uhmmmmmmmmmmm
- Sabes como se dá amor?
- Penso que é… assim… Uhmmmmmmmmmm
- Ouve lá… mas tu sabes escrever?
- Sim… com uma caneta… assim… Amo-te!
José Luís Outono
- Sim… Assim… Uhmmmmmmmmm
- Sabes como se diz amor?
- Sei… assim… Uhmmmmmmmmmmm
- Sabes como se dá amor?
- Penso que é… assim… Uhmmmmmmmmmm
- Ouve lá… mas tu sabes escrever?
- Sim… com uma caneta… assim… Amo-te!
José Luís Outono
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
sábado, 18 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O`Neill
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O`Neill
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Seres da Floresta - Flauta & Tambor
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=q2fypA2ZEkU#!
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
O tempo...
O tempo é muito lento, para os que esperam.
Muito rápido, para os que tem medo.
Muito longo, para os que lamentam.
Muito curto, para os que festejam.
Mas para os que amam, o tempo é eterno.
William Shakespeare
Muito rápido, para os que tem medo.
Muito longo, para os que lamentam.
Muito curto, para os que festejam.
Mas para os que amam, o tempo é eterno.
William Shakespeare
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
A melhor palestra que vais ouvir na sua vida - Gary Yourofsky
http://www.youtube.com/watch?v=8bH-doHSY_o&feature=share
Par de sapatos
(...) Antes de julgar a minha vida ou meu caráter...calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri,viva as minhas tristezas,as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri,tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. Então só assim poderás julgar. Cada um tem a sua própria história,não compare a sua vida com a dos outros, você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida...
Clarice Lispector
Clarice Lispector
sábado, 28 de janeiro de 2012
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