terça-feira, 24 de abril de 2012

Estou cada vez mais cercado pelos astros

Estou cada vez mais cercado pelos astros
sou um frágil satélite do tempo
Como poderei saber o que não sei
o que nunca saberei se habito apenas
o vazio da minha ignorância circular
Procuro a identidade numa imprevisível estrela
no coração do instante
no rasgão fugidio do poema

Cada vez mais os círculos tenazes e monótonos
de um mundo que já não é dos deuses
nem dos homens
se apertam em torno do meu corpo sedento
de um espaço vivo de profundo universo
e de nascentes de silêncio e de estrelas de silêncio

Cada vez mais sou um ponto vazio
emparedado pelos círculos dos astros
e pelas linhas dissonantes do tráfego
um monossílabo no meio do nevoeiro
uma balança que só pesa a sua sombra

Mas o desejo é uma nua serpente sem veneno
que procura o aluvião para além da areia estéril
e as palavras são gritos vermelhos que germinam
sobre o abismo entre líquenes e espumas
deslizando sobre o tronco da matéria inicial

António Ramos Rosa

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