domingo, 30 de junho de 2013

De tudo, ao meu amor serei atento

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure


Vinicius de Moraes

terça-feira, 25 de junho de 2013

Tempo certo

De uma coisa podemos ter certeza:
de nada adianta querer apressar as coisas;
tudo vem ao seu tempo,
dentro do prazo que lhe foi previsto.
Mas a natureza humana não é muito paciente.
Temos pressa em tudo e aí acontecem
os atropelos do destino,
aquela situação que você mesmo provoca,
por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo. Mas alguém poderia dizer:
Qual é esse tempo certo?

Bom, basta observar os sinais.
Quando alguma coisa está para acontecer
ou chegar até sua vida,
pequenas manifestações do cotidiano
enviarão sinais indicando o caminho certo.
Pode ser a palavra de um amigo,
um texto lido, uma observação qualquer.
Mas, com certeza, o sincronismo se encarregará
de colocar você no lugar certo,
na hora certa, no momento certo,
diante da situação ou da pessoa certa.

Basta você acreditar que nada acontece por acaso. Talvez seja por isso que você esteja
agora lendo estas linhas.
Tente observar melhor o que está a sua volta.
Com certeza alguns desses sinais
já estão por perto e você nem os notou ainda.
Lembre-se, que o universo sempre
conspira a seu favor quando você possui um
objetivo claro e uma disponibilidade de crescimento.



Paulo Coelho

sábado, 22 de junho de 2013

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Traço a doçura dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem as fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mão cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.


VINICIUS DE MORAIS, in ANTOLOGIA POÉTICA (Pub. D. Quixote, 2008)

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Amo-te até ao fim

http://youtu.be/giKgvcSWBHE
Te Amo Até o Fim
Eu só quero ver você
Quando você estiver sozinho
Eu só quero te pegar, se eu puder
Eu só quero estar lá

Quando a luz da manhã explode
No seu rosto se irradia
Eu não posso escapar
Eu te amo até o fim

Eu não quero te dizer nada que
Você não queira ouvir
Tudo que eu quero é dizer pra você :
Por que você não me leva

Aonde eu nunca estive antes?
Eu sei que você quer me ouvir
Recuperar o meu fôlego
Eu te amo até o fim

Eu só quero estar lá
Quando estivermos presos na chuva
Eu só quero ver você rir, não chorar
Eu só quero sentir você

Quando a noite chegar
Estou sem palavras, não me diga
Porque tudo o que posso dizer
Eu te amo até o fim

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eu Sonho!

Se um dia eu adormecer
Para nunca mais acordar
Dormirei em seus braços
Com tuas mãos a me afagar,
E com você, com certeza
Eu irei sonhar
Assim como em seus sonhos
Eu sonho em estar
E numa praia deserta
Iríamos nos encontrar
Mãos dadas, juntinhas.
Por do sol a admirar
E quando a lua chegasse
Com a noite a esfriar
Para aquecer o teu corpo
Eu iria te abraçar
E rosto no rosto
Olhar no teu olhar
Nossos lábios molhados
Ah, eu ia te beijar.
E nesse beijo ardente
O tempo ia parar
Porque o paraíso, meu bem.
É viver a te beijar!


Maria Luisa Martins

Testamento Moral

Não sei que horas são… nem quantos dias faltam.
Guardei alguns valores para vos deixar.
No sótão… lá em cima… isso!
Encontram alguns… num saco verde de esperança.
Tem muita coisa lá dentro…
Tem os vossos valores… que eu fui guardando,
Para um dia destes… vos deixar.
Guardei o vosso amor, a amizade, o respeito.
O companheirismo, a dedicação, a compreensão.
Está tudo lá dentro…
Bem depositado… com os juros da vossa garantia.
Peço-vos… repito… peço-vos,
Que insistam nestes valores…
Nas vossas empresas emocionais, pessoais, sociais.
As empresas… podem ser as pessoas que mais gostam.
Não discutam nunca… por estes valores…
Porque são os únicos, que têm valor.
Cada um dos três… tem um saquinho especial.
Cada saquinho tem: a vossa mãe… e os outros dois irmãos.
Guardei espaço… para colocarem outras pessoas que também gostem.
Da vida… só guardamos as pessoas… as emoções… e os momentos.
Todo o resto se vai…
Haverá outro saquinho… onde encontrarão,
Os vossos valores adquiridos…
Aquilo que faz com que sejam… o que realmente são.
Os pais criam guidelines… não imposições!!!
Na secção dos pensamentos…


Paulo Santos

Mãe

Sabia que um dia partirias…
Mas não queria aceitar esse teu lugar de destino…
Estavas frágil… muito frágil…
Tão frágil… que a vida deixou de fazer sentido.
Estavas linda… continuavas linda…
Mas os teus olhos já não sorriam…
A tua face dorida… lutava por ti… por mim.
Um dia… mãe de armas que sempre foste,
Não aguentaste que olhos se fechassem
… para nunca mais abrirem.
Sei apenas para onde foste… não sei onde estás…
Apenas sei… que algures dentro de mim,
Terás sempre o teu espaço… o meu amor.
Quando eu um dia também partir… deste mundo sem dor…
Irei procurar-te…
Dar-te-ei um beijo e saberei como estás.
Prometo…



Paulo Santos

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Rio triste

Longuíssimos braços têm
os olhos que tudo abraçam.
Somente, só os olhos vêem
os olhos que por mim passam.

Clandestinamente os lanço,
braços de mar, olhos de água.
Longo ser líquido avanço,
abraço a vida, e alago-a.

Destino do amor triste
que não se ouve nem se vê.
ama apenas porque existe.
Não sabe a quem nem porquê.

Nesta obrigação de estar
que a cada um de nós cabe,
coube-me esta de amar.
E ninguém sabe.


ANTÓNIO GEDEÃO, in "POESIA COMPLETA" (Ed. João Sá da Costa, 1996)

Como eu queria

Quero ler-te
Lentamente
Verso a verso
Como se fosses poesia

Quero sentir-te
Lentamente
Gota a gota
Como se fosses maresia

Respirares-me
Boca a boca
Lentamente

Como eu queria.

JOSÉ GABRIEL DUARTE, in NO OUTRO LADO DE MIM (Chiado Ed., 2012)

Amor vivo

Amar! mas dum amor que tenha vida...
Não sejam sempre só delírios e desejos
Duma douda cabeça ensandecida...

Amor que viva e brilhe! luz fundida
Que penetre o meu ser - e não só beijos
Dados no ar - delírios e desejos -
mas amor... dos amores que têm vida...

Sim, vivo e quente! e já a luz do dia
Não virá dissipá-lo nos meus braços
Como névia da vaga fantasia...

Nem murchará do sol à chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra uns débeis amores... se têm vida?


ANTERO DE QUENTAL, in SONETOS (Verbo, 2005)

domingo, 16 de junho de 2013

Gregorian - Wish You Were Here

http://youtu.be/T2XIh5bbX9U

Livro aberto

Quero que tenhas muitas páginas
E versos difíceis de entender
Quero que me digas onde vais
E que nada fique por dizer...

Sei que não há lugares eternos.
Esta cadeira tem horas,
Há ficar e partir...
Há um entardecer
Para os vagares e demoras.
Até pode chover...

Abre e diz-me a teu jeito
Essa página, e outra, e outra,
Mas não, não me toques ainda.

Assim aberto
Fica
Perto
Mas não me toques ainda.

Deixa-me ler até ao fim.
Com os olhos, com o peito
Antes que o vento
Vire a página da decisão.

Quero ser eu
A tocar essas páginas
Que vou ler e anotar.
Mas por agora, quero ler-te
Só ler-te.
Quero amar-te devagar.


CARLOS CAMPOS, in RIO DE DOZE ÁGUAS, 12 POETAS (Coisas de Ler Ed., 2012)

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Coldplay - The Scientist

http://youtu.be/YOzT-_KnSuY

Num relâmpago

Sabes?!
Quero levar-te o Mar
entregar-te a maresia
no pefume que exala
do meu olhar!

Sabes?!
Quero que sintas no teu leito
O areal doce que recebe a vaga
encontro perfeito
em eterno movimento
suavidade feita fulgor
grito, arfar, calor!

Sabes?!
Quero que contemples o firmamento
que recebas na brisa
meu suave e doce beijo
que saboreies na nuvem
o cheio de meu seio
que te me entregues
em meu quente porto
sem temor...
em Reino de Orfeu
de todos os sonhos…tutor!

Sabes?!
Não… não sabes… ou Sabes?!



ANA FONSECA, in NO LEITO DO MEU PENSAMENTO (Universus, 2011)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Te amo

Te amo
Te amo de uma maneira inexplicável
De uma forma inconfessável
De um modo contraditório
Te amo
Te amo, com meus estados de ânimo que são muitos
E mudar de humor continuadamente
Pelo que você já sabe
O tempo
A vida
A morte
Te amo
Te amo com o mundo que não entendo
Com as pessoas que não compreendem
Com a ambivalência da minha alma
Com a incoerência dos meus atos
Com a fatalidade do destino
Com a conspiração do desejo
Com a ambiguidade dos fatos
Ainda quando digo que não te amo, te amo
Ate quando te engano, não te engano
No fundo levo a cabo um plano
Para amar-te melhor
Te amo
Te amo sem refletir, inconscintemente
Irresponsavelmente, espontaneamente
Involuntariamente, por instinto
Por impulso, irracionalmente
De fato não tenho argumentos lógicos
Nem sequer improvisados
Para fundamentar esse amor que sinto por ti
Que surgiu misteriosamente do nada
Que não resolveu magicamente nada
E que milagrosamente, pouco a pouco, com pouco e nada
Melhorou o pior de mim
Te amo
Te amo com um corpo que não pensa
Com um coração que não raciocina
Com uma cabeça que não coordena
Te amo
Te amo incompreensivelmente
Sem perguntar-me porque te amo
Sem importa-se porque te amo
Sem questionar-me porque te amo
Te amo
Simplesmente porque te amo
Eu mesma não sei porque te amo...


Pablo Neruda

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Não sei

Não sei se nasceste
para o que é excessivo.
Excedes o caminho
das horas,
alargas desmesuradamente
as palavras.
De que são feitas
as tuas noites?
Tão longas como as minhas...
ou tão ténues e breves
que não se chamam noites
e, quem sabe, tenham
perdido o significado e o leito...
Intervalos serão entre
o luar e o sol nascente,
momentos longos e brancos
como densas brumas
para te perderes?
Não sei se encontraste
as tuas estrelas...
Não sei se respiras paredes-meias
com o esquecimento e a solidãocomo
te ignoras, te escondes?
Talvez no final dos dias,
sem ventos, entre a liquidez dos olhares
me reencontres e digas
porque não te debruçaste
na janela para sentires o corpo,
porque não encontraste
a voz, a luz, o fruto
entre tantas palavras sem sabor...


LÍLIA TAVARES , in PARTO COM OS VENTOS (Kreamus, 2013)

domingo, 9 de junho de 2013

Em ti

Em ti o chão exausto de meu desejo. A flor aberta
dos sentidos. A calidez do lume. A água. O vinho.
O sangue a estuar em fúria. O grito do sol
que em transe de labareda fulge e irradia.
A extensão de tantos vales
e colinas. Fragrantes. Infinitas.
Os pomos saborosos, repartidos.
Os gomos. Os sumos ardorosos.
Os bosques impregnados de maresia.
A placidez molhada das ervas.
O luzir loiro das searas pelo vento devastadas.
O estio. O seu zénite. A sua vertigem.

Em ti a inclinação dos ramos. A translucidez do verde.
O derrame da seiva. O estremecer das raízes.
O musgo despontando. O aveludado dos troncos.
Os álamos. Os plátanos. E outras núbeis melodias.
O espreguiçar incandescente dos rios.
O êxtase das aves altas anunciando o fervor
de um beijo. De um afago. De uma carícia.
O hálito das corolas. As sépalas. Os estames.
O brilho e o odor silvestre da resina. A relva sedosa.
A primavera inebriada com sua própria brisa.

Em ti o menear da terra. As eiras. O feno flamante.
O irromper dos brotos. O despertar dos cálices.
A embriaguez do nardo. E da acácia, festiva.
O matiz das cores na várzea repercutido.
O som dos mananciais posto a descoberto.
O manar das fontes em euforia.
Os céus azuis a derramarem hinos.
O trinado agudo da andorinha.
O acenar obstinado dos choupos.
As centelhas rubras do crepúsculo.
O perfume juvenil das vinhas.

Em ti o delírio das ondas. Das espumas.
As fogueiras ateadas. Os aromas fulvos.
O sopro das chamas. O pão aceso. As espigas.
Os campos de lilases que se estendem
numa queimadura de aurora.
As pétalas humedecidas.
O incêndio azul do orvalho.
A alvura da açucena na manhã florida.

Em ti, amada, celebro a memória de todas as coisas vivas.


GONÇALO SALVADO, in ARDENTIA (Ed. Tágide, 2011)

sábado, 8 de junho de 2013

JANE BIRKIN & SERGE GAINSBOURG - LA DECADANCE

http://youtu.be/3EWbg-sW-gA

Pecados

Fecho os olhos
para que a noite não me doa.

Abrigo em mim, o pássaro ferido
de outrora.

Difícil explicação essa - a da impossibilidade de voar-

Suavemente tento apagar a memória.
Lembrar o dia-a-dia convencional.

Sonho-te em princípios de azul
num alegre recortar pedacinhos do céu.

Tento a sombra de um salgueiro
o sal do mar
e uma montanha inacessível.

Busco-te dentro de mim
numa tentativa de paz.

Pobre alma remendada.

Desejo inconfessado
ternura incandescente.
Soltam-se os cabelos,
as lágrimas,
alguns olhares
perdidos
os sabores a morango
no tempo e na vontade
de esquecer.

Vagueio entre sorrisos
belos
os
segredos
pueris,
de uma noite
em que me deito e tento,
uma morte sem dormir.


ANAMAR, in ESCRITO NAS ÁRVORES (Ed. Colibri, 2011)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A secreta viagem

No barco sem ninguém, anónimo e vazio,
ficámos nós os dois, parados, de mão dada ...
Como podem só os dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!
Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornamo-nos reais, e de maneira, à proa...
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos...
Por entre nossas mâos, o verde mar se escoa...
Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem...
Aonde iremos ter? - Com frutos e pecado,
se justifica, enflora, a secreta viagem!
Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa, passa... alheio aos meus sentidos.
- Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,
a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!


DAVID MOURÃO-FERREIRA, in A SECRETA VIAGEM (1ª ed., Ed. Távola Redonda, 1950), in OBRA POÉTICA (Ed. Presença, 5ª ed, 2006)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Realidade

Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...


FLORBELA ESPANCA, in SONETOS, (Alétheia Ed., 2010)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Eis-me

Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in LIVRO SEXTO (Moraes Ed., 1962) in OBRA POÉTICA (Caminho, 2010)

domingo, 2 de junho de 2013

Eu sei que vou te amar

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Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida


Tom Jobim

Mundo

33 (2)

sábado, 1 de junho de 2013

SÍSIFO

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.


MIGUEL TORGA, in DIÁRIO XIII [(8-7-1977/ 20-5-1982) Pub. Dom Quixote e Herdeiros de Miguel Torga, 2.ª edição integral], 1999)