quarta-feira, 31 de julho de 2013

Nos sonhos, eu amo

Fecho os olhos
Todas as noites,
Adormeço contigo em sonhos
Sempre abraçados, junto a fontes,
Desfolho os teus lábios
Descanso no teu aconchego,
Tudo isto, em volta de sentimentos
Quando, nem que seja só pela noite, a ti chego,
Tudo na noite é claro
Tudo brilha ao teu redor,
Só por si, a magia do teu olhar
Faz-me amar, e gostar de ser um sonhador,
No fundo consigo ouvir
A melodia do teu olhar,
E a sonhar é quando te consigo sentir
Desejando jamais acordar,
O sonho é real
Ninguém o destrói,
Não se trata apenas de se ser sentimental
Porque cada um tem aquilo que constrói,
Hoje, sejamos fortes
Que seja tempo de abrir os olhos,
Espalhando todas as sementes
Que nos dão vida, em nossos sonhos,
Sejamos amor
Em tudo o que nos rodeia,
Mas sem nunca esquecer a dor
Pois o Homem colhe, tudo aquilo que semeia.



António Vieira Da Silva

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente
no balanço de uma rede que dança gostoso
numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente
comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe
que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente
chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril,
mas parece manhã de Natal
do tempo em que a gente acordava e encontrava
o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas
que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos
acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha
que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando
um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia
do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe
que a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e que a atração
que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra
que no instante em que rimos Deus está connosco,
juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você que nem percebe
como tem a alma Perfumada!
E que esse perfume é dom de Deus.


Carlos Drummond de Andrade

sábado, 27 de julho de 2013

Pegue-me de volta em teus braços de amor

Pegue-me de volta em teus braços de amor
deixa eu sentar denovo no teu colo
como uma menina que eu adoro ser
Precise de mim denovo como você precisa do ar
pra poder respirar que assim virá ao meu encontro
Me toque novamente me toque varias vezes de todos os jeitos, em todos os seus dias enquanto você viver .
E se houver dentro de você alguma duvida de que podemos mesmo dar certo e ficarmos bem...
Se lembre de quando eu não existia no seu mundo
Se lembre do quanto nos procuramos
e que nunca, nunca você amou tanto uma mulher assim,
como faz comigo.
Não vá mais, você sabe que estará me deixando
aqui sem meu coração, o levando com você,
Eu sou aquela que sempre vai ficar a amar você,
E você sabe que eu ainda estarei aqui quando você voltar,.
Sou aquela que quer ser a sua doce mulher,
a sua mais louca fantasia,
a sua busca e o seu encontro incansável,
a sua surpresa constante,
sou a sua mais sincera risada,
Você verá, você saberá o que eu posso te dar,
Mais pra isso acontecer,você terá que arriscar,
terá que me pegar,
Posso ser tudo o que você precisa,
Ou se me deixar aqui, posso ser o seu nada
Deixe-me ser aquela a te amar mais,
cada dia mais,
Me veja, como se você nunca tivesse me visto,
Me abrace bem forte
de tal maneira que não consiga me soltar,
e então você não poderá mais ir ,
Entre dentro de mim,
de uma tal maneira que você fique todo grudado,
assim ninguém mais poderá nos separar,
Apenas acredite em mim, aprecie comigo cada segundo,
Eu te farei ver todas as mais lindas coisas,
esclarecerei todas as duvidas que o seu coração precisa saber.
E de alguma forma, todo o amor que temos poderá ser salvo,.
Nós encontraremos sempre juntos um jeito.
Do que você precisa?
Faço tudo por você,
é só me pedir..
Faço o que você quiser
não porque você pede, ou precisa,
mas porque me sinto bem,
e sou alguém melhor depois que descobri
o que é amar.


Thaís Fernanda

Eu que me Aguente Comigo

"Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim."


Álvaro de Campos - Poemas
Heterónimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Vem comigo

vem comigo
ver as pirâmides fantásticas do vento
no interior luminoso da terra encontrarás
o segredo de quartzo para desvendares o tempo
onde contemplamos a fulva doçura das cerejas

iremos para onde os restos de vida não acordem
a dor da imensa árvore a sombra
dos cabelos carregados de pólenes e de astros
crescemos lado a lado com o dragão
o súbito relâmpago dos frutos amadurecendo
iluminará por um instante as águas do jardim
e o alecrim perfumará os noctívagos passos
há muito prisioneiros no barro
onde o rosto se transforme e morre
e já não nos pertence

vem comigo
praticar essa arte imemorial de quem espera
não se sabe o quê junto à janela
encolho-me
como se fechasse uma gaveta para sempre
caminhasse onde caiu um lenço
mas levanto os olhos
quando o verão entra pelo quarto e devassa
esta humilde existência de papel

vem comigo
as palavras nada podem revelar
esqueci-as quase todas onde vislumbro um fogo
pegando fogo ao corpo mais próximo do meu


AL BERTO, in O MEDO ( Assírio & Alvim, 1987)

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Cuando Me Enamoro - Enrique Iglesias

http://www.youtube.com/watch?v=4DO8GsIYfhQ

Lição de vida

Un día mi madre me preguntó ¿cuál era la parte más importante del cuerpo?
A través de los años trataría de buscar la respuesta correcta.
Cuando era más joven, pensé que el sonido era muy importante para nosotros, por eso dije,
- "Mis oídos, Mamá". Ella dijo:
"No, muchas personas son sordas y se arreglan perfectamente." Pero sigue pensando, te preguntaré de nuevo."

Varios años pasaron antes de que ella lo hiciera. Desde aquella primera vez, yo había creído encontrar la respuesta correcta. Y es así que le dije:
- "Mamá, la vista es muy importante para todos, entonces deben ser nuestros ojos." Ella me miró y me dijo:
- "Estás aprendiendo rápidamente, pero la respuesta no es correcta porque hay muchas personas que son ciegas, y salen adelante aun sin sus ojos".

Continué pensando ¿cuál era la solución? A través de los años, mi madre me preguntó un par de veces más, y ante mis respuestas la suya era:
"No, pero estás poniéndote más inteligente con los años, pronto acertarás".

Hace algunos años, mi abuelo murió. Todos estábamos dolidos. Lloramos. Incluso mi padre lloró. Recuerdo esto sobre todo porque fue la segunda vez que lo vi llorar. Mi madre me miraba cuando fue el momento de dar el adiós final al abuelo.Entonces me preguntó,
- " ¿No sabes todavía cuál es la parte más importante del cuerpo, hijo?". Me asusté cuando me preguntó justo en ese momento. Yo siempre había creído que ese era un juego entre ella y yo. Pero ella vio la confusión en mi cara y me dijo,
- "Esta pregunta es muy importante. Para cada respuesta que me diste en el pasado, te dije que estabas equivocado y te he dicho por qué. Pero hoy es el día en que necesitas saberlo.

Ella me miraba como sólo una madre puede hacerlo, Vi sus ojos! llenos de lágrimas, y la abracé. Fue entonces cuando apoyada en mí, me dijo:
- "Hijo, la parte del cuerpo más importante es tu hombro". Le pregunté, "¿Es porque sostiene mi cabeza?" Y ella respondió:
- "No, es porque puede sostener la cabeza de un ser amado o de un amigo cuando llora.

Todos necesitamos un hombro para llorar algún día en la vida, hijo mío. Yo sólo espero que tengas amor y amigos, y así siempre tendrás un hombro donde llorar cuando lo necesites,como yo ahora necesito el tuyo."


Roxana Vill

Arrependimentos antes de morrer

Bronnie Ware é uma enfermeira australiana que durante vários anos trabalhou numa unidade de cuidados paliativos para doentes terminais. No seu blog – Inspiration and Chai – compilou as cinco coisas que as pessoas à beira do fim mais se arrependem de não ter feito.
Ware afirma que as pessoas «crescem imenso quando confrontadas com a sua mortalidade» e que cada indivíduo passa por uma «grande variedade de emoções», «negação, medo, raiva, remorso, mais negação e, eventualmente, aceitação».

Quando questionados sobre o que gostariam de ter feito de forma diferente em vida, os pacientes repetiam frequentemente os temas. Essas respostas foram compiladas e deram origem ao livro 'The Top Five Regrets of The Dying'.

Aqui fica um resumo dos principais arrependimentos das pessoas no leito de morte, tais como foram testemunhados por Bronnie Ware.


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Quem me dera ter tido a coragem de viver de acordo com as minhas convicções e não de acordo com as expectativas dos outros. «Este é o arrependimento mais comum. Quando as pessoas se apercebem de que a sua vida esta a chegar ao fim e olham para trás, percebem quantos sonhos ficaram por realizar. (…) A saúde traz consigo uma liberdade de que poucos se apercebem que têm, até a perderem».



Quem me dera não ter trabalhado tanto. «Este era um arrependimento comum em todos meus pacientes masculinos. Arrependiam-se de terem perdido a infância dos filhos e de não terem desfrutado da companhia das pessoas queridas. (…) Todas as pessoas que tratei se arrependiam de terem passado muita da sua existência nos ‘meandros’ do trabalho».



Quem me dera ter tido coragem de expressar os meus sentimentos. «Muitas pessoas suprimiram os seus sentimentos, para se manterem em paz com as outras pessoas. Como resultado disso, acostumaram-se a uma existência medíocre e nunca se transformaram nas pessoas que podiam ter sido. Muitos desenvolveram doenças cujas causas foram a amargura e ressentimento que carregavam como resultado dessa forma de viver».



Quem me dera ter mantido contacto com os meus amigos. «Muitas vezes as pessoas só se apercebem dos benefícios de ter velhos amigos quando estão perto da morte e já é impossível voltar a encontrá-los. (…) Muitos ficam profundamente amargurados por não terem dedicado às amizades o tempo e esforço que mereciam. Todos sentiam a falta dos amigos quando estavam às portas da morte».



Quem me dera ter-me permitido ser feliz. «Muitos só perceberam no fim que a felicidade era uma escolha. Mantiveram-se presos a velhos padrões e hábitos antigos. (…) O medo da mudança fê-los passarem a vida a fingirem aos outros e a si mesmos serem felizes, quando, bem lá no fundo, tinham dificuldade em rir como deve ser».

sábado, 20 de julho de 2013

Não posso adiar o amor para outro século

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.


ANTÓNIO RAMOS ROSA, in VIAGEM ATRAVÉS DUMA NEBULOSA (1960) e ANTOLOGIA POÉTICA (Publ. D. Quixote, 2001)

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Você saberá que é amada

Você saberá que é amada
Quando ele te olhar com mais carinho do que desejo
Com mais ternura do que paixão

Você saberá que é amada
Quando ele pedir mil desculpas por ter chegado atrasado
E você perceber nos olhos dele
Que ele está com o coração na mão

Você saberá que é amada
Quando ele não medir esforços para te ver
Para te agradar
Nem para demonstrar de todas as formas
O quanto ele te adora e te quer bem

Você saberá que é amada
Quando mesmo que você sequer o esteja notando
Ele não pare de te rodear
Ansioso por te encher de mimos e carinhos

Você saberá que é amada, enfim,
Quando ele ligar para você quando você menos esperar
Nem que seja apenas para ouvir tua voz
E te desejar um lindo dia
E continue sempre a cantar
e a declarar os sentimentos dele por você
Mesmo que ele não ouça de você
Uma única palavra
E continue mostrando-se completamente apaixonado
Mesmo que ele saiba
que qualquer coisa que ele faça
Será totalmente em vão...


Augusto Branco

Veja só!

Veja só!
Que tolice nós dois
Brigarmos tanto assim
Se depois, vamos nós a sorrir
Ficar de bem no fim

Para que maltratar o amor?
O amor não se maltrata, não
Para quê?
Se essa gente o que quer
É ver nossa separação
Brigo eu
Você briga também
Por coisas tão banais
E o amor
Em momentos assim
Morre um pouquinho mais
E, ao morrer, então é que se vê
Que quem morreu
Foi eu e foi você
Pois sem amor
Estamos sós
Morremos nós


Altemar Dutra

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Amor como em casa

Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.
Faço de conta que não é nada comigo.
Distraído percorro o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.
Devagar te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no amor como em casa.


MANUEL ANTÓNIO PINA, in AINDA NÃO É O FIM NEM O PRINCÍPIO DO MUNDO. CALMA, É APENAS UM POUCO TARDE (A Regra do Jogo Ed., 1974)

Disseste

Disseste em tons de ave que esvoaça
a tua maior ferida, o teu anelo
de esconderes dos olhos de quem passa
o que a ti mesmo queiras esconder.

Disseste em tanto excesso, altas ramadas,
a faustosa vertente que se abria
em leque ou turbilhão, em vagas agitadas
de clamor ou vulcão de que ninguém sabia

a força e a origem – e o próprio sentido.
Disseste até correr o vento todo,
até morrer um sol que tão sumido

se tornara deserto ou lassidão de lodo.
Disseste a desrazão de um desacordo
com tracejado a negro a ser comprido.


JOÃO RUI DE SOUSA, in QUARTETO PARA AS PRÓXIMAS CHUVAS (Pub. D. Quixote, 2008)

Toma o Comprimido

http://youtu.be/dqzeVu2dc4g
Hey, Cara

Você parece doente
Ou anda com a saúde ausente
Decerto tem a testa quente
O mal será desse dente
Se não passa com aguardente
Vá à caixa e diga que é urgente
Lá há remédio pra toda a gente

Você foi imprevidente
Ou é muito impaciente
Faça cara de contente
Você vai ficar igual
Toma já um melhoral
Porque é bom e não faz mal
Além disso é legal
Toma já um melhoral
É o melhor e é legal

Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Eu sei que é nocivo
A isto e áquilo
Esquece isso pelo bem que faça
Eu sei que é nocivo
A isto e áquilo
Esquece isso pelo bem que faça

Você está muito pesada
Não diga que está inchada
Não há roupa que lhe sirva
Não há cinta que lhe valha
Já perdeu de todo a linha
Está a tempo de voltar a fina
É um milagre da medicina
Que é o avanço da aspirina

Tome e fique confiante
Vai ficar muito elegante
Isto é melhor que um purgante
Você vai emagrecer
Cuidado, não abusar
Mas se isso acontecer
Tome outro pra engordar
Cuidado não abusar
Não pare de controlar

Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Eu sei que é nocivo
A isto e áquilo
Esquece isso pelo bem que faça
Eu sei que é nocivo
A isto e áquilo
Esquece isso pelo bem que faça

Tu estás tão acorrentado
À sombra que tens ao lado
Não consegues apagar
As marcas desse passado
Que teimas em recusar
Mas a mistura da drogaria
E tens a cura para mais um dia

Descola a raiz do fundo
Ficas acima de tudo
Não sentes nada do mundo
Do mundo que te não quer
Cuidado, não abusar
Mas se isso acontecer
És mais um a flipar
Mas se tu queres acabar
Ó que tu queres é drunfar

Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Eu sei que é nocivo
A isto e áquilo
Esquece isso pelo bem que faça
Eu sei que é nocivo
A isto e áquilo
Esquece isso pelo bem que faça

Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Eu sei que é nocivo
A isto e áquilo
Esquece isso pelo bem que faça
Eu sei que é nocivo
A isto e áquilo
Esquece isso pelo bem que faça

Insiste

Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa
Toma um comprimido
Toma um comprimido
Toma um comprimido que isso passa


António Variações

O mundo nas tuas mãos

16.06.13 - 1

Santo e senha

Deixem passar quem vai na sua estrada
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.

Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer
Deixem-no pois passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai
Uma estrela no chão.


MIGUEL TORGA, in DIÁRIO I (Ed. do Autor, Coimbra, 1943)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

É fácil trocar as palavras

É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.

Fernando Pessoa

sábado, 13 de julho de 2013

Apelo

Preciso de ti,
chamo-te e não ouves,
ou são os teus ouvidos minerais
como búzios?
Ou perdi eu a voz
com os ventos
em cada onda da tempestade?
Sinto-te como quem apalpa o ar
ou alcança uma nuvem líquida.
Como palmilhar as estrelas
ou querer, sendo cego,
misturar todas as cores do poente?
Sei que estás aí
e és a outra metade do meu corpo.

Não quero ser violentada por palavras agrestes.
Dói-me a ausência
dessa outra parte de mim.

 

LÍLIA TAVARES, in PARTO COM OS VENTOS (Kreamus., 2013)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Tarde demais?

Um dia vou descobrir-te
Perder-me no teu horizonte
Brilhar no teu sol
Poisar no teu ombro.
Ficar ao teu lado para sempre.

Peguei num pincel e:
Surgiu-me o mar;
Surgiu-me a lua;
Surgiu-me o sol.
Porquê a lágrima com tanta claridade?

Olhei para o passado e perguntei:
‘onde estás?’
Ele não me respondeu…
Queres dizer-me tu?

Encontrei-te na música
Encontrei-te nas memórias
Encontrei-te no meu coração.

Perdi-me no passado
Perdi-me na dor
Perdi-me na oração
Perdi-me em ti.

O vento sopra
Afasto a ausência
Abro os braços
Aguardo a presença
Sei que não partiste.

Nunca é tarde demais

!,.ClaraCamargo

Soy mujer

Soy mujer. Solo una mujer y la oscuridad me hiere. Y es honda esta vida de la que estoy prisionera.
Soy mujer. Solo una mujer Y puedo decir que esto que siento es como arrastrar un gemido o una tristeza de granito.
Porque solo soy mujer... o un latido
Soy mujer. Escuchas mi grito?

Casi nada.....O quizás todo.

Y ahora, en este momento de mi vida, no quiero casi nada. Tan solo la ternura de mi familia y la agradable compañía de mis amigos. Unas cuantas carcajadas y unas palabras de cariño. El recuerdo dulce de mi infancia. Un par de árboles al otro lado de los cristales y un pedazo de cielo al que se asome la luz y la noche. El mejor verso del mundo y la más hermosa de las músicas. También quiero, eso sí, mantener la libertad y el espíritu crítico por los que pago con gusto todo el precio que haya que pagar. Quiero toda la serenidad para sobrellevar el dolor y toda la alegría para disfrutar de lo bueno. Un instante de belleza a diario. Echar desesperadamente de menos a los que han tenido que irse porque tuve la suerte de haberlos tenido a mi lado. No estar jamás de vuelta de nada. Seguir llorando cada vez que algo merece mis lagrimas, pero no quejarme de ninguna tontería. No convertirme nunca, nunca, en una mujer amargada, pase lo que pase. Y que el día en que me toque esfumarme, un puñadito de personas piensen que ha valido la pena que yo anduviera un rato por aquí. Sólo quiero eso. Casi nada.....O quizás todo.

Xelo

En la profundidad de la metáfora

No me busques entre la multitud, estoy con el silencio, en la playa de las promesas, con el faro que guía las barcas hasta buen puerto.
Estoy con las palabras y un libro en las manos.
No me busques,...Estoy con los pájaros y los árboles que siempre son sinceros y fieles, con la luna que siempre tiene un plato en la mesa... en la profundidad de la metáfora

1000 artigos colocados... e continua a correr

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Obrigado a todos que têm seguido o meu blogue

Eu falo das casas e dos homens

Eu falo das casas e dos homens,
dos vivos e dos mortos:
do que passa e não volta nunca mais...
Não me venham dizer que estava materialmente previsto,
ah, não me venham com teorias!
Eu vejo a desolação e a fome,
as angústias sem nome,
os pavores marcados para sempre nas faces trágicas
das vítimas.

E sei que vejo, sei que imagino apenas uma ínfima,
uma insignificante parcela da tragédia.
Eu, se visse, não acreditava.
Se visse, dava em louco ou profeta,
dava em chefe de bandidos, em salteador de estrada,
- mas não acreditava!

Olho os homens, as casas e os bichos.
Olho num pasmo sem limites,
e fico sem palavras,
na dor de serem homens que fizeram tudo isto:
esta pasta ensanguentada a que reduziram a terra inteira,
esta lama de sangue e alma,
de coisa a ser,
e pergunto numa angústia se ainda haverá alguma esperança,
se o ódio sequer servirá para alguma coisa...

Deixai-me chorar - e chorai!
As lágrimas lavarão ao menos a vergonha de estarmos vivos,
de termos sancionado com o nosso silêncio o crime feito instituição
e enquanto chorarmos talvez julguemos nosso o drama,
por momentos será nosso um pouco do sofrimento alheio,
por um segundo seremos os mortos e os torturados,
os aleijados para toda a vida, os loucos e os encarcerados,
seremos a terra podre de tanto cadáver,
seremos o sangue das árvores,
o ventre doloroso das casas saqueadas,
- sim, por um momento seremos a dor de tudo isto...

Eu não sei porque me caem as lágrimas,
porque tremo e que arrepio corre dentro de mim,
eu que não tenho parentes nem amigos na guerra,
eu que sou estrangeiro diante de tudo isto,
eu que estou na minha casa sossegada,
eu que não tenho guerra à porta,
- eu porque tremo e soluço?
Quem chora em mim, dizei - quem chora em nós?

Tudo aqui vai como um rio farto de conhecer os seus meandros:
as ruas são ruas com gente e automóveis,
não há sereias a gritar pavores irreprimíveis,
e a miséria é a mesma miséria que já havia...
E se tudo é igual aos dias antigos,
apesar da Europa à nossa volta, exangue e mártir,
eu pergunto se não estaremos a sonhar que somos gente,
sem irmãos nem consciência, aqui enterrados vivos,
sem nada senão lágrimas que vêm tarde, e uma noite à volta,
uma noite em que nunca chega o alvor da madrugada...


Adolfo Casais Monteiro

Poema do silêncio

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

José Regio

Poema quinquagésimo

Tanto é o amor de que a boca me alimenta
que eu amo as sílabas inchadas de ternura,
rebentos sanguíneos de uma fala breve e inquiridora
que quer saber de tudo, o poema, o livro, a noite e até
do fogo dentro das crianças, dos archotes que me guiam
pelas grutas do pensamento e pelas dunas claras
do teu corpo em repouso.
Nelas as minhas mãos aguardam o amanhecer
quando é mais doloroso chamar-te mulher ou mãe
ou fêmea. Ou roseira.
Na minha insónia a noite não é mais do que terra
sedenta e suplicante. A que, de bruços me pede amor
e me oferece amor, de rosto magoado pela paixão antiga
de uma vida cintilante mas cruel. Amo-te, amo-me
até aos ossos. E por este ofício de cantar-te eu daria
a minha vida, para encher, embriagado, a tua vida
de versos, de uma luz feliz.
Imagino-te tremendo nos antigos caminhos
enquanto a minha idade mergulha no mais fundo
das coisas que um dia me dirás.
Hoje, nada existe sem ti, sem a lucidez do dia,
tudo és tu, tudo é esta vontade de pertencer-te assim
como quem se entrega e se consome nesse fogo árduo
que os meus dedos acendem e a tua carne alimenta
quando a dor são palavras, nada mais que palavras,
e as palavras se imolam devagar.
Com uma fome ruiva, roubas da minha boca
os pães ainda quentes para dar aos versos
e a água prenhe e límpida para dar aos beijos.


JOAQUIM PESSOA, in GUARDAR O FOGO ( Edições Esgotadas, 2013)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Corre... corre cavalinho corre

cavalinho

Se penso mais que um momento

Se penso mais que um momento
Na vida que eis a passar,
Sou para o meu pensamento
Um cadáver a esperar.

Dentro em breve (poucos anos
É quanto vive quem vive),
Eu, anseios e enganos,
Eu, quanto tive ou não tive,

Deixarei de ser visível
Na terra onde dá o Sol,
E, ou desfeito e insensível,
Ou ébrio de outro arrebol,

Terei perdido, suponho,
O contacto quente e humano
Com a terra, com o sonho,
Com mês a mês e ano a ano.

Por mais que o Sol doire a face
Dos dias, o espaço mudo
Lambra-nos que isso é disfarce
E que é a noite que é tudo.


Fernando Pessoa

Passei toda a noite, sem dormir...

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.


Alberto Caeiro

É proibido

"É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual."


Pablo Neruda

terça-feira, 9 de julho de 2013

Somnium

O Sonho não precisa de apresentação e talvez seja melhor assim. Sem ser apresentado, cada um pode imaginar-lo como queira e tornar-lo mais seu. Quem sabe se o sonho não é tímido, por outro lado. Nunca quer ser apresentado. Vive do medo de existir e de ser julgado onde exista. E Nós? Quantas vezes já o julgámos? Quantas vezes já lhe amputámos as asas para voar? Nem tenho conta...Imagem

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A vida me ensinou...

“A vida me ensinou...
A dizer adeus às pessoas que amo,
Sem tira-las do meu coração;

Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para mostra-las que sou diferente do que elas pensam;

Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade,
Para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;

Calar-me para ouvir;
Aprender com meus erros.
Afinal eu posso ser sempre melhor.

A lutar contra as injustiças;
Sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo,

A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhosa com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;

Amar aos que me machucam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente,
Pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente,
Pois também preciso desse amor;

A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordado;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;

A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas", embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;

A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;

A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;

Me ensinou e esta me ensinando a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesma tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher.”

Charles Chaplin

Um jeito estupido de te amar - Maria Bethânia -

http://www.youtube.com/watch?v=QnvZFjJo_Q4

- A Mulher Perfeita -

"Conta-se que um mestre indiano chamado Nasrudin conversava com um amigo, que lhe fez a seguinte pergunta: E então, mestre, nunca pensaste em casamento?
Já pensei, respondeu Nasrudin. Em minha juventude, resolvi conhecer a mulher perfeita. Atravessei o deserto, cheguei a Damasco e conheci uma mulher espiritualizada e linda; mas ela não sabia nada das coisas do mundo.
Continuei a viagem e fui à cidade de Isfahan. Lá encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e do espírito, mas não era bonita.
Então, resolvi ir até o Cairo, onde jantei na casa de uma moça bonita, religiosa e conhecedora da realidade material.
Intrigado, o amigo indagou:
E por que não casaste com ela?
Ah! Meu companheiro! suspirou Nasrudin. Infelizmente ela também procurava um homem perfeito.
O ensinamento do sábio indiano aplica-se perfeitamente aos dias de hoje.
É comum ouvirmos as exigências das pessoas, no que diz respeito à amizade, ao namoro e casamento.
Os jovens e as jovens trazem em suas mentes sonhadoras a idealização de como deverá ser aquele, ou aquela, que conquistará seu coração.
Ingenuamente, procuramos a perfeição no outro, já que não podemos encontrá-la em nós mesmos.
Não há mal, de forma alguma, em ser exigente na escolha de nossas amizades ou de um futuro esposo ou esposa. Isto é saudável, desde que não cheguemos ao exagero, é claro.
O problema está em sempre querer que o outro seja especial, que tenha diversas virtudes, esquecendo de que ele, ou ela, também tem suas exigências, suas idealizações.
Assim, poderíamos questionar: Será que eu tenho estas características, estas virtudes que procuro no outro? Será que ele não tem uma lista de exigências como a minha? Eu preencho os meus próprios requisitos?
Exemplificando: você sonha com alguém que seja companheiro, que seja sincero, e em quem possa confiar. Agora, você já parou para analisar se você está disposto a ser assim para com o outro? Se a virtude da sinceridade está em seu coração, ou se você é digno de inspirar confiança?
Vejamos como a racionalidade nos ajuda a entender melhor as coisas da vida. Ela nos ensina a perceber que antes de exigir qualquer virtude dos outros, é preciso verificar se nós a temos.
Assim, é importante o esforço para se melhorar, para agradar os outros, buscando a perfeição em nós primeiramente.
Ainda estamos longe da sublimidade, é certo, mas é preciso caminhar rumo a ela todos os dias."

Redação do Momento Espírita

domingo, 7 de julho de 2013

Tu sei ♥ Eros Ramazzotti ( tradução)

http://www.youtube.com/watch?v=UndTYFZZR74

Brincas todos os dias com a luz

Brincas todos os dias com a luz do Universo.
Subtil visitadora, chegas na flor e na água.
És mais do que a pequena cabeça branca que aperto
Como um cacho entre as mãos todos os dias.

Com ninguém te pareces desde que eu te amo.
Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
Quem escreve o teu nome com letras de fumo entre as estrelas do sul?
Ah, deixa-me lembrar como eras então, quando ainda não existias.

Subitamente o vento uiva e bate à minha janela fechada.
O céu é uma rede coalhada de peixes sombrios.
Aqui vêm soprar todos os ventos, todos.
Aqui despe-se a chuva.

Passam fugindo os pássaros.
O vento. O vento.
Eu só posso lutar contra a força dos homens.
O temporal amontoa folhas escuras
E solta todos os barcos que esta noite amarraram ao céu.

Tu estás aqui. Ah tu não foges.
Tu responder-me-às até ao último grito.
Enrola-te a meu lado como se tivesses medo.
Porém mais que uma vez correu uma sombra estranha pelos teus olhos.

Agora, agora também pequena, trazes-me madressilva,
E tens até os seios perfumados.
Enquanto o vento triste galopa matando borboletas
Eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.

O que te haverá doído acostumares-te a mim,
à minha alma selvagem e só, ao meu nome que todos escorraçam.
Vimos arder tantas vezes a estrela-d’alva beijando-nos os olhos
E sobre as nossas cabeças destorcem-se os crepúsculos em leques rodopiantes.

As minhas palavras choveram sobre ti acariciando-te.
Amei desde há que tempo o teu corpo de nácar moreno.
Creio-te mesmo dona do Universo.
Vou trazer-te das montanhas flores alegres, "copihues",
Avelãs escuras, e cestos silvestres de beijos.

Quero fazer contigo
O que a primavera faz com as cerejeiras.


PABLO NERUDA, in VINTE POEMAS DE AMOR E UMA CANÇÃO DESESPERADA, trad. de Fernando Assis Pacheco (Publ. D. Quixote, 1ª ed. 1971, 15ª ed. 2007)

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.


Miguel Torga

Ser feliz

Ser feliz não é ter um céu sem tempestades, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas, relacionamentos sem decepções.
Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros.
Ser feliz não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos.
Ser feliz não é apenas ter júbilo nos aplausos, mas encontrar alegria no anonimato.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista de quem sabe viajar para dentro do seu próprio ser.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si e ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz, é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
É beijar os filhos, curtir os pais!
É ter momentos poéticos com os amigos, mesmo que eles nos magoem.
Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós.
É ter maturidade para falar: “Eu errei”.
É ter ousadia para dizer: “Me perdoe!”
É ter sensibilidade para expressar: “Eu preciso de você”.
É ter capacidade de dizer “Eu te amo”.
E, quando você errar o caminho, recomece tudo de novo. Pois assim você será cada vez mais apaixonado pela vida. E descobrirá que...
Ser feliz não é ter uma vida perfeita.
Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância.
Usar as perdas para refinar a paciência.
Usar as falhas para esculpir a serenidade.
Usar a dor para lapidar o prazer.
Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.


Augusto Cury

sábado, 6 de julho de 2013

Metade

http://youtu.be/yWu2iAaAJUc

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

No leito

Sereno na face a lágrima
que teima em cair solta
desprendida deste mar profundo
que são em escuro
meus olhos...
mar que se agita
revolve em sentido espelho
sentimento

Ninguém me espera
a não ser eu em mim e em ti
na página que em branco
desbravo
quero sentir-te
em cada linha traçada
ver-te-me em cada palavra
desenhada

Abro a janela
recebo na brisa da noite
o arrepio que o teu eu
me provoca...

Como posso serenar-me
serenando-te
se é tão doce em mim
o desconcerto
de ver-te no leito
do meu pensamento...


ANA FONSECA, in NO LEITO DO MEU PENSAMENTO (Universus, 2011)

Conto de fadas

Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
- Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: «Era uma vez...»




FLORBELA ESPANCA, in CHARNECA EM FLOR (Liv. Gonçalves, Coimbra, 1ª ed., 1931)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Saber Amar

http://youtu.be/MdTreZH0f8M

A crueldade de que se é capaz
Deixar pra trás os corações partidos
Contra as armas do ciúme tão mortais
A submissão às vezes é um abrigo

Saber amar
É saber deixar alguém te amar

Há quem não veja a onda onde ela está
E nada contra o rio
Todas as formas de se controlar alguém
Só trazem um amor vazio

Saber amar
É saber deixar alguém te amar

O amor te escapa entre os dedos
E o tempo escorre pelas mãos
O sol já vai se pôr no mar


Paralamas do Sucesso

O amor é o amor

O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?


ALEXANDRE O'NEILL, in ABANDONO VIGIADO (1960), in POESIAS COMPLETAS 1951/1986 (INCM, 3ª ed. , 1995)

Se Puder Sem Medo

http://youtu.be/bH4nfozKQ3c

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava


OSWALDO MONTENEGRO

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Soneto de todas as putas

Não lamentes, ó Nize, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putissimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas teem reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleopatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrecia, com toda a tua proa,

O teu conno não passa por honrado:

Essa da Russia imperatriz famosa,
Que inda ha pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, ó Nize, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.


Bocage

Amor

o teu rosto à minha espera, o teu rosto
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.

as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.

entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.

hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.

JOSÉ LUÍS PEIXOTO, in A CASA, A ESCURIDÃO ( Temas e Debates, 2002)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre -
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.


LBERTO CAEIRO (FERNANDO PESSOA), POEMAS INCONJUNTOS in POEMAS DE ALBERTO CAEIRO. FERNANDO PESSOA (Ática, Lisboa, 1946/1993)

Seda - Sonho Azul

http://youtu.be/xg_ohC45_EQ

terça-feira, 2 de julho de 2013

A manhã estava em mim

A manhã estava em mim
E eu andava pelo parque
À procura da manhã.
Só um menino correndo
Atrás da bolsa, corria
Atrás da sua manhã.

A manhã estava em mim;
Ai de mim que a não sentia
Andando pela manhã.
Havia sol. E eu tão fria!...
Só um cego que pedia
Sentiu no rosto a manhã...

A manhã estava em mim;
Ai, mas eu já desistia
De me encontrar na manhã.
Veio a tarde, foi-se o dia,
Anoiteceu e eu dormia
Sem ter sentido a manhã.

Ai que mim que não sabia
Que estava em mim a manhã!


NATÁLIA CORREIA, in RIO DE NÚVENS (1947), in POESIA COMPLETA - O SOL NAS NOITES E O LUAR NOS DIAS (Dom Quixote, 2007)

Poema CXIV

Abri a porta e não havia espaço.
Alguém tinha posto ali uma montanha. Não
em frente, mas ali mesmo. A três, quatro metros
iniciava-se uma encosta e só saindo a porta se podia
ver o cume. Quer isto dizer que agora vejo a vida
de outra forma? Que apenas depois de sair de mim
poderei sobreviver ou resgatar-me?
Ou quer dizer que me sinto sem saída e que terei
de transpor uma montanha para atingir a liberdade
que só pode alcançar-se do outro lado? Não sei.
Gostava de chegar a tempo de conhecer a resposta.
Nem poderei dizer "não me interessa" ou "para quê
pensar nisso", ou ainda "tudo não passou de um sonho,
agora acordaste, Joaquim, pára com essa conversa
outra vez."

Se te dói alguma coisa, não pares, continua
porque tudo é doloroso a começar pela dúvida. Tens
expectativas, todos os palermas têm expectativas,
alguma coisa tens de fazer mesmo que nada tenha
resultado nas últimas cinco vezes. Respira, se quiseres
respirar, com a coragem de quem assina um papel
em branco e cuida da tua alma como um enfermeiro
ou um técnico de manutenção.

Eu também sei que não temos de fechar os olhos
e partir, porque nos podemos escolher a nós mesmos,
o que pode ser doloroso mas não é difícil, e temos
de tentar, temos sempre de tentar agarrar a felicidade porque ela não chega quando nós menos a esperamos,
mas quando nos esforçamos e queremos muito que
ela chegue. Quando não estás pronto, nada resulta.
Até o amor é como um sapo sempre de um lado da noite
para o outro, carregando o que de mais sujo e feio
existe em nós. Procura então com coragem uma forma
de não estares na vida à socapa e ficares a assistir.
O truque está em saber ver a diferença.

Não queiras permanecer no mesmo sítio
a cantar a mesma canção, sem ir a lado algum.
Desse modo nada importará, porque o que realmente
importa já nem sequer te apetece procurar. E se
investires muito nas perguntas e pouco nas respostas,
serás um mendigo que tudo tem e nada possui.
Não dobres a medo o cabo dos trabalhos, porque
a tua memória é líquida mas não se lembra daquela luz
que se esconde na água nem sabe de que lado fica
a nascente dos pássaros que poisam nos sentidos
das coisas que regressam.

Se quiseres falar, eu estou aqui.
No território onde podes contar coisas
em que ninguém acredita e onde eu posso deixar
os meus versos até àqueles que não gostam de poesia.
Não continues especialista em envergonhar-te
perante ti mesmo. Precisas de uma vida nova,
de uma mudança séria que não deixe tudo outra vez
como estava vinte e quatro horas antes.
Como é que isto soa na tua cabeça?
Enquanto fores vivo podes aprender, mas
não exijas perfeição em nada. O que é fabuloso
continuará a sê-lo enquanto pensares que o é. Tudo
está em ti sempre prestes a partir, mas a tua
pequena galinha poderá ser muito maior
e mais gorda que a dos teus vizinhos.

Uma família é um abraço.
Estende o pensamento para os teus.
Para a tua aldeia. Para o teu mundo. És uma criança,
não podes lutar contra outras. Se o fizeres,
não vais querer parar. E a seguir não vais poder
respirar. Continua a ser o teu braço direito e lembra-te
de que há coisas que não podemos deixar de discutir.
E há outras de que nunca queremos saber.
Desejamos firmemente um tratamento especial
mas por vezes a vida dá passos muito grandes,
demasiado grandes para que possamos acreditar,
e o normal nunca será normal se te sentires
anormal.

A culpa é como uma mãe
autêntica, sempre a querer colar-se a nós
e a lembrar-nos o que não deveríamos ter feito,
como se todos os dias fossem véspera de Natal. E
se Jesus ressuscitou, por que não ter, ao menos, expectativas? Como te disse, todos os palermas têm
expectativas, mas deixa lá, pode até acontecer
que abras a porta e não vejas a montanha ou que,
sequer, isso tenha afinal algum significado.

De qualquer modo,
também gostei de falar contigo.


JOAQUIM PESSOA, in O POUCO É PARA ONTEM

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Quando duas almas se encontram ...

Quando duas almas se encontram o que realça primeiro
Não é a aparência física, mas a semelhança das almas.
Porém muitas vezes
Elas se encontram em um tempo
E em um espaço diferente
Do que suas realidades possam permitir.
Mas depois que se encontram
Ficam marcadas ... tatuadas...
E ainda que nunca venham a caminhar
Para sempre juntas
Elas jamais conseguirão se separar.
E o mais importante ...
Terão de se encontrar em algum lugar.
Almas que se encontram
Jamais se sentirão sozinhas
Porquanto entenderão, por si só
A infinita necessidade
Que têm uma da outra para toda a eternidade.



Paulo Fuentes

A vida me ensinou...

A vida me ensinou...
A dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração;
Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para mostrá-las que sou diferente do que elas pensam;
Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade, para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;
Calar-me para ouvir; aprender com meus erros.
Afinal eu posso ser sempre melhor.
A lutar contra as injustiças; sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo.
A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhoso com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;
Amar aos que me machucam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente, pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente, pois também preciso desse amor;
A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordado;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;
A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas",
embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;
A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;
A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;
Me ensinou e está me ensinando a aproveitar o presente,
como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesmo tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher.


(Desconheço autoria)

Música equilibrar hemisferios del cerebro

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=V2GVbDRGxRU#at=42

Pensamentos

poesia

E nom navego mais río que o teu corpo

O nosso amor une-se subterrâneo
como as mâos agretadas de trabalho,
como os grâos de milho serodio,
como o río que no poço desemboca!

Nosso amor, sinal acesa nos espaços,
como os olhos que se abrem e se fecham,
como as lilás que tardias arrecendem,
como labres que se bicam fondamente!

O nosso amor, águas navegaveis surcando
nos seios frondosos da selvagem,
plenitude azul de tudos os anseios.

O nosso amor que se une subterrâneo
nas noites furiosas dos abraios,
fértil arvoreda na Fraga dos Esqueços.

E nom navego mais rio que o teu corpo!


ANTOM LAIA , in NO BALOUÇAR DO VENTO (Ed. autor, 2013)