sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Evian Roller Babies international version

http://www.youtube.com/watch?v=XQcVllWpwGs

Uma das manhãs

Rente à manhã, sinto uma leve brisa.
Suave e fresca. Acaricia-me.
O dia descobre-me aos poucos, beijando-me,
e eu sou um, entre tantos que desperta.

Docemente me beija a pele adormecida,
sem pudor, desperta-me a virilidade,
assustada, de incontidas noites desejada.
Num alvoroço de luas peregrinas.

A meu lado, o amor ainda dorme.
Tão nua, num desapego lírico de se ver.
Aveludado, meu afago a percorre,
deixando adormecer minha mão,
no ventre luminoso de perdão.

Estremece um pouco; na vã tentativa
de encobrir, desfolhada rosa, que,
meus dedos no orvalho se inquietam.

Lentamente os seios despontam ao raiar,
num leve acariciar dos lábios.
Docemente sorri: afastando-me a mão.
{que agora não; ainda não despertou o coração}

Joaquim Monteiro

Rio triste

Longuíssimos braços têm
os olhos que tudo abraçam.
Somente, só os olhos vêem
os olhos que por mim passam.

Clandestinamente os lanço,
braços de mar, olhos de água.
Longo ser líquido avanço,
abraço a vida, e alago-a.

Destino do amor triste
que não se ouve nem se vê.
ama apenas porque existe.
Não sabe a quem nem porquê.

Nesta obrigação de estar
que a cada um de nós cabe,
coube-me esta de amar.
E ninguém sabe.

António Gedeão

Knockin On Heavens Door

http://www.youtube.com/watch?v=2tmc8rJgxUI

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pensamento do dia!!!

"O amor não tem idade; está sempre a nascer."

Blaise Pascal

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.


Miguel Esteves Cardoso

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pensamento do dia!!!

A vida é curta

Wish You Were Here

http://www.youtube.com/watch?v=QCQTr8ZYdhg

Tempo de poesia

Todo o tempo é de poesia.

Desde a névoa da manhã
à névoa de outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.

Todo o tempo é de poesia.

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram
Vidas que a amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação do caos
à confusão da harmonia.

António Gedeão

Ecos

Em voz alta, ensaiei o teu nome:
a palavra partiu-se
Nem eco ínfimo neste quarto
quase oco de mobília

Quase um tempo de vida a dormir
a teu lado e o desapego é isto:
um eco ausente, uma ausência de nome
a repetir-se

saber que nunca mais: reduzida
a um canto desta cama larga,
o calor sufocante

Em vez: o meu pé esquerdo
cruzado em lado esquerdo
nesta cama

O teu nome num chão
nem de saudades

Ana Luísa Amaral

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

The Adventures of Rain Dance Maggie

http://www.youtube.com/watch?v=RtBbinpK5XI

Pensamento do dia!!!

"Só existem dois dias no ano em que não podes fazer nada pela tua vida: Ontem e amanhã"

Dalai Lama

Até amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Aandrade

Canção de amor

Eu cantaria mesmo que tu não existisses,
faria amor, assim, com as palavras.
Eu cantaria mesmo que tu não existisses
porque haveria de doer-me a tua ausência.

Por isso canto. Alegre ou triste,canto.
Como se, cantando, tocasse a tua boca,
ainda antes da tua presença.
Direi mesmo, depois da tua morte.

Eu cantaria mesmo que tu não existisses,
ó minha amiga, doce companheira.
Eu festejo o teu corpo como um rio,
onde, exausto, chegarei ao mar.

Sim, eu cantaria mesmo que tu não existisses,
porque nada eu direi sem o teu nome.
Porque nada existe além da tua vida,
da tua pele macia, dos teus olhos magoados.

Assim quero cantar-te meu amor,
para além da morte, para além de tudo.

Joaquim Pessoa

When You're Gone

http://www.youtube.com/watch?v=RUmdWdEgHgk

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Preguiça...

Teoria do Amor

Amor é mais do que dizer.
Por amor no teu corpo fui além
e vi florir a rosa em todo o ser
fui anjo e bicho e todos e ninguém.

Como Bernard de Ventadour amei
uma princesa ausente em Tripoli
amada minha onde fui escravo e rei
e vi que o longe estava todo em ti.

Beatriz e Laura e todas e só tu
rainha e puta no teu corpo nu
o mar de Itália a Líbia o belvedere.

E quanto mais te perco mais te encontro
morrendo e renascendo e sempre pronto
para em ti me encontrar e me perder.

Manuel Alegre

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A dor que se deseja!

Fecho as pernas
por entre os braços que me abraçam,
cerro os olhos
e ouço apenas o coração
ritmado dentro do peito,
ouço as águas do ribeiro
beijando as margens verdejantes,
ouço as minhas lágrimas;

E calo-me,
calo-me em ti.

A felicidade também dói,
o amor dói,
a paixão dói.

Afagas-me o rosto com a ponta dos dedos
e há um sorriso encantador que te marca as faces,
tremo as mãos
e o coração quer rasgar-se por dentro.

Sinto a areia molhada onde me sento
e acomodo melhor o corpo,

Pincelo na areia o teu nome
e deixo que a espuma das águas o envolva…
partilho-te…
e partilho-te com o vento,

O relógio parou no meu pulso
para que o tempo se eternize em nós.

A felicidade também dói,
o amor dói,
a paixão dói,

Mas dói no outro lado do peito

 

Francisco Valverde Arsénio

Esfera

http://www.youtube.com/watch?v=huN7vpydWUQ

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Pensamento do dia!!!

A maioria dos homens emprega a primeira metade de sua vida a tornar a segunda metade miserável.

(Jean de La Bruyère)

As férias de.... virão



Canção da alegria

Há um pássaro que voa
Sobre as janelas do dia
Fugiu do meu peito
Poisou no meu leito
E fez
Um ninho de alegria.

Alegria que nasceu
De uma rosa quase pura
Meu amor dormindo
Nesta noite abrindo
Em flor
A minha ternura.

Tenho sede de viver
Tenho a vida à minha espera
Sou uma rosa a crescer
No azul da primavera.

Tenho sede de viver
De fazer amor contigo
Quantas vezes eu quiser
Amante, amor e amigo.

Há palavras que regressam
Como um beijo à minha boca
Para possuir-te
Para pertencer-te
A noite
Será sempre pouca.

 

Joaquim Pessoa

Nos teus olhos alguém anda no mar

Nos teus olhos alguém anda no mar
alguém se afoga e grita por socorro
e és tu que vais ao fundo devagar
enquanto sobre ti eu quase morro.

E de repente voltas do abismo
e nos teus olhos há um choro riso
teu corpo agora é lava e fogo e sismo
de certo modo já não sou preciso.

Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme.

Das tuas coxas pode ver-se a Lua
contigo o mar ondula e o vento geme
e há um espírito a nascer de seres tão nua.

Manuel Alegre