terça-feira, 25 de outubro de 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

DIA 146

Era uma vez duas vezes. E como não há duas sem três,
algum castigo tens guardado para mim. Não sei se me
roubarás os livros, se me esconderás os melros, se me
negarás os beijos. Alguma coisa destas tu farás.
Podes roubar-me os livros.
Hei-de recuperá-los, verso a verso, como a aranha que
reconstrói a teia, como o pensamento que reconstrói a
ideia, como o vento que reconstrói a duna.
Podes esconder-me os melros.
Saberei cantar. Darei asas à minha esperança para a ver
poisar em todos os verdes, brilhar em todos os muros,
debicar todos os desejos.
Não me negues os beijos.
Morrerei de fome. E de sede. E de saudade.
Morrerei de te ver e não te ter.
Morrerei de não morder a tua boca.
Morrerei de não viver.
Morrerei.

Joaquim Pessoa

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O meu amor existe

O meu amor tem lábios de silêncio
e mãos de bailarina
e voa como o vento
e abraça-me onde a solidão termina

O meu amor tem trinta mil cavalos
a galopar no peito
e um sorriso só dela
que nasce quando a seu lado eu me deito

O meu amor ensinou-me a chegar
sedento de ternura
sarou as minhas feridas
e pôs-me a salvo para além da loucura

O meu amor ensinou-me a partir
nalguma noite triste
mas antes, ensinou-me
a não esquecer que o meu amor existe

 

Jorge Palma

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Procuro-te...

Será por isso que só me sinto bem ao pé do mar. Procuro-te nas algas, nos destroços que boiam nas ondas, nos testos de naufrágio sobre a areia, em todas as praias batidas pelo vento. Às vezes vejo-te passar nas nuveus negras, nas que vêm do sul para onde partiste um dia, nas que são empurradas pelo vento do Norte e vêm da fronteira, junto à Galiza, para onde, noutros verões, costumavas ir de férias. Só o mar me traz o teu sabor, a tua mão, o cheiro do teu corpo, que é um cheiro a madressilva e às ervas das areias. Procuro-te nas pedras que podem trazer-me um sinal. É sobretudo no inverno que as praias desertas são a paisagem natural da tua ausência-presença. É então que gosto de passear na Barra de Aveiro, olhar o ângulo convexo do paredão norte com os dois braços da Ria, fixar um ponto segundo regras que os ventos me ensinaram, esperar que o sol e as nuvens reflictam nas águas a sombra do teu rosto.

Manuel Alegre

Brinquedo

Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel,
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O burro

Um dia, um burro caiu num poço e não podia sair dali. O animal chorou fortemente durante horas, enquanto o seu dono pensava no que fazer. Finalmente, o camponês tomou uma decisão cruel: concluiu que já que o burro estava muito velho e que o poço estava mesmo seco, precisaria de ser tapado de alguma forma. Portanto, não valia a pena esforçar-se para tirar o burro de dentro do poço. Chamou então os ...............seus vizinhos para o ajudar a enterrar vivo o burro. Cada um deles pegou uma pá e começou a atirar terra para dentro do poço. O burro entendeu o que estavam a fazer e chorou desesperadamente. Até que, passado um momento, o burro pareceu ficar mais calmo. O camponês olhou para o fundo do poço e ficou surpreendido. A cada pá de terra que caía sobre ele o burro sacudia-a, dando um passo sobre esta mesma terra que caía ao chão. Assim, em pouco tempo, todos viram como o burro conseguiu chegar até ao topo do poço, passar por cima da borda e sair dali. A vida vai atirar muita terra para cima de ti. Principalmente se já estiveres dentro de um poço. Cada um dos nossos problemas pode ser um degrau que nos conduz para cima. Podemos sair dos buracos mais profundos se não nos dermos por vencidos. Usa a terra que te atiram para seguir em frente!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Pensamento do dia!!!

"Só percebemos o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça"

Paulo Coelho

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os meus versos

Rasga esses versos que eu te fiz, Amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...

 

Florbela Espanca

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Rastos...

Prefiro acreditar

Era noite e eu caminhava
Pela areia e imaginava
Memórias da vida no céu,
E pegadas à beira da água
Que eu contava, admirado.
Seriam passos do passado,
Ou Deus que caminhava ao meu lado?

Era noite e eu recordava
Os dias de sofrimento e mágoa
Em que não encontrei companhia
E a areia só mostrava
O rasto da minha melancolia.
Não via as pegadas de Deus,
Os passos que via eram só meus.

Tinhas-me prometido
Que se tomasse este caminho
Caminharias a meu lado
Mas quando a dor foi maior
E olhei em redor
Mais solitário me senti
E tão solitárias as pegadas que vi.

Prefiro acreditar
Que nos dias de sofrimento e mágoa
Desenhados junto à água
Esses solitários passos
Afinal não eram meus
Eram as pegadas de Deus
Que me carregava nos seus braços.

Carlos Campos (adaptação de Mary Stevenson)

Crazy Alarm Clock Animation

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=5ZfQiDrs8bc

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Because I Got High

http://www.youtube.com/watch?v=WeYsTmIzjkw

Labirinto

Labirinto ou não foi nada
Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua. . .
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!

Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.

Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.


David Mourão Ferreira

Soneto inglês

Como o silêncio do punhal num peito,
O silêncio do sangue a converter
Em fio breve o coração desfeito
Que nas pedras acaba de morrer.

Vive em mim o teu nome, tão perfeito
Que mais ninguém o pode conhecer!
É a morte que vivo e não aceito;
É a vida que espero não perder.

Viver a vida e não viver a morte;
Procurar noutros olhos a medida,
Vencer o tempo, dominar a sorte,

Atraiçoar a morte com a vida!
Depois morrer de coração aberto
E no sangue o teu nome já liberto...

Alexandre O´Neill