terça-feira, 30 de abril de 2013

Soneto do Amor Total

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AMO-TE TANTO, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, como grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo, de repente
Hei-de morrer de amar mais do que pude.



Vinicius de Moraes, in 'O Operário em Construção'

domingo, 28 de abril de 2013

Madruguei demais

Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.

Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.

Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei
à procura de ti. De mim. De ninguém mais.

E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.


Joaquim Pessoa

Sergio Godinho - Com Um Brilhozinho Nos Olhos

http://www.youtube.com/watch?v=1J8eEACttNE

Com um brilhozinho nos olhos
E a saia rodada
Escancaraste a porta do bar
Trazias o cabelo aos ombros
Passeando de cá para lá
Como as ondas do mar
Conheço tão bem esses olhos
E nunca me enganam
O que é que aconteceu diz lá
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no mundo não há
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no mundo não há

Com um brilhozinho nos olhos
Metemos o carro
Muito à frente muito à frente dos bois
Ou seja fizemos promessas
Trocámos retratos
Traçámos projectos a dois
Trocámos de roupa trocámos de corpo
Trocámos de beijos tão bom é tão bom
E com um brilhozinho nos olhos
Tocámos guitarras
Pelo menos a julgar pelo som
E com um brilhozinho nos olhos
Tocámos guitarras
Pelo menos a julgar pelo som

E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
Que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Portanto
Hoje soube-me a pouco

Com um brilhozinho nos olhos
Corremos os estores
Pusemos a rádio no on
Acendemos a já costumeira
Velinha de igreja
Pusemos no off o telefone
E olha não dá para contar
Mas sei que tu sabes
Daquilo que sabes que eu sei
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos parados
Depois do que não te contei
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos parados
Depois do que não te contei

Com um brilhozinho nos olhos
Dissemos sei lá
Tudo o que nos passou pela tola
Do estilo: és o number one
Dou-te vinte valores
És um treze no totobola
E às duas por três
Bebemos um copo
Fizemos o quatro e pintámos o sete
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos imoveis
A dar uma de tête a tête
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos imoveis
A dar uma de tête a tête

E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
Que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Portanto
Hoje soube-me a pouco

E com um brilhozinho nos olhos
Tentámos saber
Para lá do que muito se amou
Quem eramos nós
Quem queriamos ser
E quais as esperanças
Que a vida roubou
E olhei-o de longe
E mirei-o de perto
Que quem não vê caras
Não vê corações
E com um brilhozinho nos olhos
Guardei um amigo
Que é coisa que vale milhões
E com um brilhozinho nos olhos
Guardei um amigo
Que é coisa que vale milhões

E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
Que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Portanto
Hoje soube-me a pouco

ESCREVE. ME!

escreve-me, cada vez mais, sempre: escreve-me
não páres essa filigrana que ainda agora se abre em meu peito
não mates esse caudal que há alguns séculos foi desfeito
para nos virmos encontrar, aqui, no dúplice espaço do olhar.
escreve-me, por mais estranho que seja o verbo
escreve-me, por mais raro que seja o verso
por mais imprevisto o silêncio
mais raro e feliz adversário da rotina
verso do aprender a viver a ser o dia.
começa pelo A
desde os meus cabelos em fogo e os ansiosos ombros
por uma e outra mão certas justas no limite das coxas
a descerem vertiginosas, duas vertigens até ao chão.
continua com o B
a rondar-me, de perfil, ventre e peito
a encontrar o melódico acordo cromático
do redondo talhado em colo profundo
aberto C.
aqui se recolhem os líquidos da sede morna
à espera da ceifa doce — na espera pela safra doce
pela suada colheita de tão mútua doce —
entre corpos desejada entre corpos acertada
até derivar, do entre-corpo, uma só fronteira
única vigia de ondas vivas de onde
se afirma o D
em contramão, falso promontório, meio-monte
provocador dos contrários e suas leis, físicas.
entrelaçadas pernas ágeis, afagos esbracejados
fingem-se em E
fundem-se em F
contorcem-se em G,
durante H instantes sorvidos na eterna lentidão.

atingiremos, então, uma pausa de I, linha sinuosa,
até ao dançante J
ao tenso K e
ao longo espojar pelos lençóis
no L libertário.

aí, sentirás ter chegado o momento de voltares ao texto
mover de M
a mão no mais verdadeiro mover com intenção
requebrado em esforçadas fugas
e negas N
a confirmar-nos, assim, na sintonia do movimento
em ovo, em O.

escreveres-me, sempre na seda mais tenra
para também eu desenhar a terna filigrana
que ainda agora se abre em meu peito
esse caudal que há alguns séculos foi desfeito
para nos virmos encontrar, aqui, no dúplice
espaço do olhar
escreveres-me, por mais estranho que seja o verbo
escreveres-me, por mais raro que seja o verso
escrever/mo/ -nos,
por mais imprevisto o silêncio
por mais raro o feliz adversário da rotina
a letra de aprender a viver, a ser o dia.

desde o P
abre o teu côncavo onde se aninham as tremuras mais fatais
pois um peito estremece com os espasmos do amor e da morte.
abre-me, sem concessões, o peito moreno onde me pouse
sem lugares para o Q
pergunta sempre redutora e vigarizada pela mente,
essa letra R
que tens de amansar para que não rase a volúpia da
dança em S.
escrevamos o aceder profundo à plenitude
quando o T configura a nossos corpos em templos
quando o U inicia a vibração astral
quando o V intensifica a fusão final
até ao alastrar das nossas peles
no cingido X
variável instante da totalidade
até adormecermos, confiantes,
entregues em Z
ou vazio absoluto
pois um corpo em entrega, como o seu peito
estremece com os espasmos do amor
e o espasmo do amor é, na vida,
a passagem ao infinito mais próxima da morte.


.
maria toscano ©
Coimbra, Casa Verde, 25-28 Abril2013.

sábado, 27 de abril de 2013

Convida-me só para jantar

E não queiras depois fazer amor.
Convida-me só para jantar
num restaurante sossegado
numa mesa de canto
e fala devagar
e fala devagar
eu quero comer uma sopa quente
não quero comer mariscos
os mariscos atravancam-me o prato
e estou cansada para os afastar
fala assim devagar
devagar
não é preciso dizeres que sou bonita
mas não me fales de economia e de política
fala assim devagar
devagar
deita-me o vinho devagar
quando o meu copo estiver vazio.
Estou convalescente
sou convalescente
não é preciso que o percebas
mas por favor não faças força em mim.
Fala, estás-me a dar de jantar
estás-me a pôr recostada à almofada
estás-me a fazer sorrir ao longe
fala assim devagar
devagar
devagar


Ana Goês. In 366 poemas que falam de amor. Antologia organizada por Vasco Graça Moura

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Solidão

Sei que no parado das horas
entre sombras e aromas de urze
me liberta a noite
do rigor do caminho

Corpos sem nome e sem rosto
vestem a seda da tua pele
nos sons do escuro

mas é a ti que procuro
em qualquer tempo
e teus são os beijos que colho
estranhos
noutras bocas

Só a noite me liberta
da solidão do destino


EDGARDO XAVIER, in CORPO DE ABRIGO (Temas Originais, 2011)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

GLee Cast - You're Having My Baby (HQ)

http://youtu.be/sjlud1P4iUg

Canto ... feliz

!01ClaraCamargoBIrd

Intimidade

A um floco de nuvem
murmurei segredos
que se tornaram
doces palavras de Amor
sopradas aos ouvidos do tempo...
É assim a magia
de contigo estar
em todos os momentos...

e em cada desencontro
Procuro-te...
recebo o teu braço na brisa,
o teu sorriso na luz,
a tua palavra em cada linha traçada
e assim…naturalmente
se tecem todos os encontros
e assim…e em ti, serenamente!


ANA FONSECA, in NO LEITO DO MEU PENSAMENTO (Universus, 2011)

É uma brisa leve

!!csClaraCamargoÉ uma brisa leve
Que o ar um momento teve
E que passa sem ter
Quase por tudo ser.
Quem amo não existe.
Vivo indeciso e triste.
Quem quis ser já me esquece
Quem sou não me conhece.
E em meio disto o aroma
Que a brisa traz me assoma
Um momento à consciência
Como uma confidência.


FERNANDO PESSOA, in POESIAS INÉDITAS (1919-1930). (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) [ Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990)]

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Felicidade

Felicidade
é abrir-te devagar como uma porta
rangendo murmúrios
para o meu corpo entrar.

E depois, depois voltar a fechá-la atrás de mim
e caminhar em ti em ritmos certos
para que os meus passos se confundam com o
bater do teu coração.

E depois, depois semear em ti trigo novo
e soltar papoilas nuas da minha boca
para que se misturem com o teu sangue.

E depois,
depois perder-me nesse sonho sem regresso
só com a luz dos teus olhos
a levarem notícias do mundo!...


JOÃO MORGADO, in RIO DE DOZE ÁGUAS (Coisas de Ler Ed., 2012)

Gosto

Gosto de passear na tua sombra,
poder te ver, sem tu me veres,
de estar contigo, sem tu saberes,
Gosto de me esconder na tua ausência,
de ser teu sonho, sem me sonhares,
viveres comigo, sem o julgares,
Gosto de me enlear na tua teia,
de ser teu cúmplice, sem que me prendas,
ser teu escravo, sem que me vendas,
Gosto que gostes de ser viagem,
e ao me encontrares,
eu ser paragem…


JOSÉ GABRIEL DUARTE, in RIO DE DOZE ÁGUAS (Coisas de Ler Ed., 2012)

Coração

Onde está meu coração
Que outrora batia descompassadamente?
Talvez ancorado num cais perdido
Talvez esquecido num areal longínquo
Ou que sabe, nunca tenha assim batido...

Onde poderá estar?
Nas cordas dum violino
Chorando acordes melancólicos
Num beco sem saída, num temporal
Naufragado num oceano
Envolvido num sudário de estrelas do mar
Ou na etérea neblina da floresta
Caminhando como um insano perdido, quem sabe...

Recordo vagamente, como pulsava em mim
procuro incessantemente sem o vislumbrar
Retenho em mim memórias vagas
Lembranças diáfanas.

Meu coração, agora sem rosto
Deixou de sentir, pereceu
Em seu lugar está ua ferida, mal cerzida
Já esqueci a razão pela qual sorria
Neste tempo, sem tempo
Onde. figazmente, a vida aconteceu.

Não quero calar a voz que dói em mim
Numa preamar, quem sabe, logo pela madrugada
Num eco do mar, eu o possa encontrar
Ou uma gaivota, protegendo-a em suas asas
Mo possa devolver, sem choros ou lamentos
Quero-o de novo, pulsante, ardente
Quero-o, quero-te coração, em mim novamente!


CECÍLIA VILAS BOAS, in O ECO DO SILÊNCIO (Esfera do Caos, 2012)

terça-feira, 23 de abril de 2013

O sal da língua

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Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.


Eugénio de Andrade

Desilusão!

Se me deixei desiludir,

porque me ando sempre a iludir!

Agora tenho vergonha de te chamar,

até mesmo de te olhar!

 

Soubeste-me desiludir,

como nunca soube sentir!

 

Conseguiste-me magoar

e acho que nunca te vou perdoar!

 

Já nem sei o que fazer,

sinto o corpo todo a tremer!

 

Não dá para evitar,

as lágrimas não consigo parar de derramar!

 

Só me apetece partir, 

fugir,

desistir!

 

Cansei de lutar,

acabo sempre a chorar!

Por mais oportunidades que tente dar,

já sei que me vou sempre magoar!

 

É inevitável,

é imperdoável,

é irrecuperável!

 

Autoria: Daniela Macieira

domingo, 21 de abril de 2013

Um jeito estupido de te amar - Maria Bethânia

http://youtu.be/QnvZFjJo_Q4

Eu sei que eu tenho um jeito
Meio estúpido de ser
E de dizer coisas que podem magoar e te ofender
Mas cada um tem o seu jeito
Todo próprio de amar e de se defender
Você me acusa e só me preocupa
Agrava mais e mais a minha culpa
Eu faço, e desfaço, contrafeito
O meu defeito é te amar demais
Palavras são palavras
E a gente nem percebe o que disse sem querer
E o que deixou pra depois
Mais o importante é perceber
Que a nossa vida em comum
Depende só e unicamente de nós dois
Eu tento achar um jeito de explicar
Você bem que podia me aceitar
Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar

Fico assim sem vc - Adriana Calcanhoto

http://youtu.be/ent6P8gFTdQ

Amor em Paz

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Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

 

Vinícius de Moraes

O Medo do Amor

Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da
inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o
medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.
O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.
E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.
Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.
Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.

Martha Medeiros

Mensagem de Amor

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.


Pablo Neruda

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Cai... cai, folha cai

floresta

Casa

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a solidão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.


DAVID MOURÃO-FERREIRA, in INFINITO PESSOAL (Guimarães Ed., 1962), in OBRA POÉTICA (Presença, 2006)

2º Andar direito - Sérgio Godinho

http://www.youtube.com/watch?v=VCyigkhgdlU

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Fraqueza Humana !

Todos dizem que os problemas devemos enfrentar,

mas em vez disso, fogem!

 

Afinal quem são os fracos?

Os que tentaram e falharam ou os que simplesmente desistiram da sua felicidade?

A fraqueza da humanidade baseia-se no simples facto de desistir de si próprio, com medo de falhar, esquecendo-se de que ” a falha” é tão provável como a ” certeza”, só depende de nós oferecermos a possibilidade de sermos bem sucedidos!

 

 

 Autoria: Daniela Macieira

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Tarde demais?

Um dia vou descobrir-te
Perder-me no teu horizonte
Brilhar no teu sol
Poisar no teu ombro.
Ficar ao teu lado para sempre.

Peguei num pincel e:
Surgiu-me o mar;
Surgiu-me a lua;
Surgiu-me o sol.
Porquê a lágrima com tanta claridade?

Olhei para o passado e perguntei:
‘onde estás?’
Ele não me respondeu…
Queres dizer-me tu?

Encontrei-te na música
Encontrei-te nas memórias
Encontrei-te no meu coração.

Perdi-me no passado
Perdi-me na dor
Perdi-me na oração
Perdi-me em ti.

O vento sopra
Afasto a ausência
Abro os braços
Aguardo a presença
Sei que não partiste.
Nunca é tarde demais.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Palavra de Deus

Diz-se que quando Deus criou o mundo para que os Homens prosperassem, concedeu-lhes 2 virtudes:

a) Aos Suíços, fê-los ordenados e cumpridores da lei;

b) Aos Ingleses, fê-los persistentes e estudiosos;

c) Aos Japoneses, fê-los trabalhadores e pacientes;

d) Aos Italianos, alegres e românticos;

e) Aos Franceses, fê-los cultos e refinados.

E, quando chegou aos portugueses..., voltou-se para o anjo que tomava notas e disse:

- Os portugueses vão ser inteligentes, boas pessoas e vão ser do Benfica.

Quando acabou de criar o mundo, o anjo disse a Deus:

- "Senhor, deste a todos os povos duas virtudes e aos portugueses três. Isto fará com que prevaleçam sobre todos os demais"

Então Deus reflectiu e disse:

- "É pá!... Tens razão... Bom como as virtudes divinas não se podem tirar... que os portugueses, a partir de agora, possam ter qualquer das três, mas que a mesma pessoa não possa ter mais do que duas virtudes de cada vez.

Assim seja que:

1. Português que seja do Benfica e boa pessoa, não pode ser inteligente.

2. O que é inteligente e do Benfica, não pode ser boa pessoa.

3. E o que é inteligente e boa pessoa, não pode ser do Benfica.

Palavra de DEUS


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O Amendoim e o futuro ginecologista

Um Homem estava a beber cerveja, e a comer amendoins e a ver TV na sala,'vigiando' a filhinha de 13 anos que namorava na varanda.
Cheio de sono,a cerveja fazendo efeito, começa a coçar o ouvido com um amendoim até que a casca do amendoim parte e o caroço de amendoim fica entalado no ouvido.
O Homem fica desesperado, começa a tentar tirar o amendoim com o dedo e empurra mais para dentro! Pega uma tampinha de caneta Bic e merda, o amendoim entrou mais ainda. Nisto o Homem já estava louco, gritando, chamando a mulher, que veio a correr e que apavorada já queria levar o marido bêbado para o hospital.
O Homem não queria. - Que merda !!!!!!!
- Sou um Homem de posição, não posso me expor ao ridículo, etc...
A filha e o namorado (de 17 anos...) entram na sala para ver o que se passa.
- 'Pai, que é isso! Que vergonha!'
O gaiato (namorado da filha):
-'Calma, que eu resolvo o problema!
Quando era escuteiro, era eu que socorria os amigos!
O entalado, que estava feito parvo, apavorado, e agora com aquele sujeitinho a dar palpite, acabou por aceitar ajuda.
O sujeitinho mete dois dedos no nariz do sogro, e diz:
-'Feche a boca e sopre pelo nariz com bastante força!!'
E não é que o maldito amendoim saiu do ouvido?
O namoradinho sai todo convencido, a filha toda apaixonada, e a mulher encantada com o eficientíssimo rapaz, diz para o marido:
-'Viste que lindo? Tão calmo, tão controlado nas emergências. O que será que ele vai ser?!?!?! '

E o marido, cada vez mais zangado, responde:
- 'Pelo cheiro dos dedos do filho da puta, vai ser ginecologista! !!!'


 

Enganos

O médico foi chamado para observar um individo que de encontrava deitado e inconsciente. Esteve com ele durante muito tempo, mas finalmente conseguiu reanimá-lo.
- Porque bebeste aquela coisa daquela garrafa? (perguntou o médico) Não viste a etiqueta que estava colada a garrafa? Dizia "Veneno".
O individo respondeu:
- Sim, doutor, vi, mas não acreditei.
O doutor perguntou-lhe, então:
- Porque?
O individo respondeu:
- Porque sempre que acredito em alguém sou enganado.

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Sem ressentimentos

Ele descobriu que a sua mulher andava a engana-lo com outro. Por isso foi ter com a mulher do amante da mulher e contou-lhe.
- Já sei o que vamos fazer! - exclamou ela. - Vamos vingar-nos deles.
Então foram para um motel vingar-se deles.
Ela disse:
- Vamos vingar-nos mais.
Então continuaram a vingar-se e a vingar-se. Por fim, ele disse:
- Já chega de vingança. Já não tenho ressentimentos.

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O poeta e o monge

Certa noite estava um poeta sentado no seu alpendre inclinado sobre um recipiente, quando um monge passou por ali.
Ao olhar para o poeta perguntou-lhe:
O que estás a fazer?
O poeta respondeu:
- A contemplar a lua numa tigela.
O monge começou a sorrir de um modo tresloucado.
O poeta pouco a vontade perguntou-lhe:
-Porque te estas a rir? qual é o problema? Porque estas a ridicularizar-me?
O monge respondeu-lhe:
A não ser que tenhas partido o pescoço, porque não olhas directamente para a lua no céu?

Estudo cientifico

Estudos recentes provam:

- 14% dos homens depois de fazerem amor, viram-se de lado e adormecem.
- 16% dos homens depois de fazerem amor, vão tomar um duche.
- 20% dos homens depois de fazerem amor, vão ao frigorifico comer ou beber algo.
- 50% dos homens depois de fazerem amor, vestem-se e vão para casa ter com a mulher.


rir32

domingo, 14 de abril de 2013

O mar fala de ti

http://youtu.be/OOFe4Krv048

Eu nasci nalgum lugar
Donde se avista o mar
Tecendo o horizonte
E ouvindo o mar gemer
Nasci como a água a correr
Da fonte

E eu vivi noutro lugar
Onde se escuta o mar
Batendo contra o cais
Mas vivi, não sei porquê
Como um barco à mercê
Dos temporais.

Eu sei que o mar mão me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Que te levei ao mar quando te vi
Eu sei que o mar mão me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Quem dele se perdeu
Assim que te perdi.

Vou morrer nalgum lugar
De onde possa avistar
A onda que me tente
A morrer livre e sem pressa
Como um rio que regressa
Á nascente.

Talvez ali seja o lugar
Onde eu possa afirmar
Que me fiz mais humano
Quando, por perder o pé,
Senti que a alma é
Um oceano.


Mafalda Arnauth

Última canção

Se puderes ainda
ouve-me, rio de cristal, ave
matutina. ouve-me,
luminoso fio tecido pela neve,
esquivo e sempre adiado
aceno do paraíso.
Ouve-me, se puderes ainda,
Devastador desejo,
fulvo animal de alegria.
Se não és alucinação
ou miragem ou quimera, ouve-me
ainda: vem agora
e não na hora da nossa morte
- dá-me a beber a própria sede.



EUGÉNIO DE ANDRADE, in CHUVA SOBRE O ROSTO, (Modo de Ler/Ed. Afrontamento, 2009)

Corpo de aroma

!!csClaraCamargo (1)

Se foste corola ou barco,
mas quando?
minha irmã,
minha leve amante, minha árvore,
que o mundo levantava
na inocência absoluta
do instante.
Alta estavas no amplo e recolhida
como uma lâmpada,
alta estavas na varanda branca.
Se acaso ainda podes ser aroma
dos meus olhos,
corpo no corpo,
retiro e substância, linha alta
da delícia,
nada te pedirei na minha ânsia
de puro espaço,
de azul imediato,
de luz para o olvido e o deserto.


ANTÓNIO RAMOS ROSA, in ANTOLOGIA PESSOAL DA POESIA PORTUGUESA, DE EUGÉNIO DE ANDRADE (Campo das Letras, 7ª ed., 2002)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Dia de treino

Como me ando a sentir um pouco em baixo de forma e o verão aproxima-se, voltei ao ginásio... ontem foi o meu primeiro dia...

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...nada mau para um quota como eu ;)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Lágrima de papel

!!csClaraCamargo

Abotoam-se os olhos rasgados pela
infinitude da prece
cresce lânguido o sobreiro
sangue estival de cativeiro
o altar de
cobre
o corpo laminado
em mortalha de seda
o amor esgota-se nas palavras
repetidas quando não perpetuadas
em verbos
então sorriso
suspiro respiro dor
(en)canto na floresta de todos os espantos
onde te descubro
toque a toque
na pele em que te t(r)oco
corpo a corpo
virgem
sacramento
alimento.

Sabes a violetas frescas, quando me
sussurras promessas.
Lábios selados a ponto ajour
para que (eu) não exale o último suspiro
atinjo o céu elevo-me em suaves movimentos
música celestial
anjo e demónio
s.a.c.r.a.m.e.n.t.a.l
deixo de sentir. E parto (s)em lamento.


ANAMAR, in ESCRITO NAS ÁRVORES (Ed. Colibri, 2011)

quarta-feira, 10 de abril de 2013

As sem razões do amor

!,.ClaraCamargo

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, in CORPO (Ed. Record, 16ª ed., Brasil, 2002)

terça-feira, 9 de abril de 2013

Aprendi e Decidi

E assim, depois de muito esperar,
num dia como outro qualquer,
decidi triunfar...

Decidi não esperar as oportunidades
e sim, eu mesmo buscá-las.

Decidi ver cada problema
como uma oportunidade
de encontrar uma solução.

Decidi ver cada deserto
como uma possibilidade
de encontrar um oásis.

Decidi ver cada noite
como um mistério a resolver.

Decidi ver cada dia
como uma nova oportunidade de ser feliz.

Naquele dia descobri
que meu único rival não era mais
que minhas próprias limitações
e que enfrentá-las era a única
e melhor forma de as superar.

Naquele dia, descobri
que eu não era o melhor
e que talvez eu nunca tivesse sido.

Deixei de me importar
com quem ganha ou perde.

Agora me importa simplesmente
saber melhor o que fazer.

Aprendi que o difícil
não é chegar lá em cima,
e sim deixar de subir.

Aprendi que o melhor triunfo
é poder chamar alguém
de “Amigo”.

Descobri que o amor
é mais que um simples estado de enamoramento,

“O amor
é uma filosofia de vida”.

Naquele dia,
deixei de ser um reflexo
dos meus escassos triunfos passados
e passei a ser uma tênue luz no presente.

Aprendi que de nada serve Ser Luz
se não iluminar o caminho dos demais.

Naquele dia,decidi trocar
tantas coisas...

Naquele dia,
aprendi que os sonhos
existem para tornar-se realidade.

E desde aquele dia
já não durmo para descansar...

Simplesmente durmo

para sonhar...


Walt Disney

JACQUES BREL - NE ME QUITTE PAS

http://www.youtube.com/watch?v=aNkydsPK6ww

domingo, 7 de abril de 2013

Teces nos teus olhos

Teces nos teus olhos
O frio da madrugada.
As fontes, onde as aves
Beberam os gritos.
Teces a espuma deste mar
Que te levou de mim,
Os domingos de sol
Numa tarde de Maio,
Quando o silêncio renasce
Da sua morte.
Foi para ti que inventei o sonho,
Para que os anjos tristes
Que te acompanhavam,
Te desamparassem.
Foi neste mar imenso,
Nesta praia deserta,
Que nasceu no teu rosto
A madrugada.


PAULO EDUARDO CAMPOS, in NA SERENIDADE DOS RIOS QUE ENLOUQUECEM (Amores Perfeitos, 2005)

O teu ombro sabe que a nudez

O teu ombro sabe que a sua nudez
é objecto de poema.
Quando lhe tiras o vestido
- pelo ombro -
o teu corpo sabe que as palavras
acorrem
ao arrepio da pele.
E o meu corpo sabe
que as palavras lhe pertencem,
esbarram no desejo,
apresentam a incoerência do delírio
que desce do teu ombro
para a música
do silêncio que fará o poema.


Dedico-te palavras: apenas
marcos de uma intensidade,
uma ligeira pele do que nunca
poderia descrever, da porta
que se abre quando o ombro
se solta do vestido
que desenha no chão
um gemido de amor: o som
da alegria, o seu
visível reflexo que capta
e expande
toda a luz secreta do poema.


EGITO GONÇALVES, in OS DIAS DO AMOR, por Inês Ramos (Ministério dos Livros, 2008)

REIKI NIVEL II: CHO KU REI

Apesar de já ser iniciado no nível II de Reiki a varios anos, algo de estranho se me anda a "escapar". Necessito ir mais longe.

13

Os 5 princípios do Reiki

Kyo dake wa
(Só por hoje)

1 – Ikaru na
(Não te zangues)

2 – Shinpai suna
(Evite preocupar-se)

3 – Kansha shite
(Seja grato)

4 – Gyo o hage me
(Trabalhe com afinco)

5 – Hito ni shinsetsu ni
(Seja gentil com o ser humano)

Ambição

attention

"Deseje a lua, e nunca encontrará o sol"

sábado, 6 de abril de 2013

Sinto-me sozinho

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Sinto-me sozinho.
Triste mesmo. Com uma vontade de chorar.
Queria um pouco de carinho. Não vão.
Não mendigado. Não esmigalhado.

Queria deixar de sentir-me desamparado
Amigos. Já não servem.
O passado, já passou.
O futuro, está tão escuro.

Sinto-me sozinho.
Desesperado. Queria conversar. Abraçar.
Talvez, aprender a amar.
Quiça, sonhar.

A paixão se esvaiu. Distraiu. Desiludiu.
Passou e magoou. Tudo parece que estagnou.
E, sinto-me sozinho.
Calado. Sedado. Sozinho.


Raul de Oliveira

Fico Sozinho com o Universo Inteiro

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Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...

Vai tudo dormir...

Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...

Vai tudo dormir...

Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.


Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Poema do Homem Só

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Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.


Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem


Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.


Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.


Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.


Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

António Gedeão

Post scriptum

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Afasto de ti com
raiva surda

o corpo
as mãos
o pensamento

e apago secreta
uma a uma
as velas acesas do teu vento

liberta ponho o corpo
em seu lugar
visto a cidade
penteio um rio sedento

penso ganhar
e fujo
e não entendo

penso dormir
mas não consigo
o tempo

E cede-se o vazio
sobre o meu ventre

e segue-se a saudade
em seu sustento

E digo este meu vício
dos teus olhos
de um verde tão lento
muito lento

Se penso que te deixo
já te quero

Se penso que recuso
já te anseio

Se penso que te odeio
já te espero

e torno a oferecer-te
o que receio

Se penso que me calo
já te grito

Se penso que me escondo
já me ofereço

Se penso que não sinto
é porque minto

Se pensas que me olhas
já estremeço.


MARIA TERESA HORTA, in MINHA SENHORA DE MIM ( D. Quixote, 1971), in POESIA REUNIDA (D. Quixote, 2009)

A palavra

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Se eu soubesse a palavra,
a que subjaz aos milhões das que já disse,
a que às vezes se me anuncia num súbito silêncio interior,
a que se inscreve entre as estrelas contempladas pela noite,
a que estremece no fundo de uma angústia sem razão,
a que sinto na presença oblíqua de alguém que não está,
a que assoma ao olhar de uma criança que pela primeira vez interrogou,
a que inaudível se entreouve numa praia deserta no começo do Outono,
a que está antes de uma grande Lua nascer,
a que está atrás de uma porta entreaberta onde não há ninguém,
a que está no olhar de um cão que nos fita a compreender,
a que está numa erva de um caminho onde ninguém passa,
a que está num astro morto onde ninguém foi,
a que está numa pedra quando a olho a sós,
a que está numa cisterna quando me debruço à sua borda,
a que está numa manhã quando ainda nem as aves acordaram,
a que está entre as palavras e não foi nunca uma palavra,
a que está no último olhar de um moribundo, e a vida e o que nela foi fica a uma distância infinita,
a que está no olhar de um cego quando nos fita e resvala por nós,

- se eu soubesse a palavra,
a única, a última,
e pudesse depois ficar em silêncio para sempre...


VERGÍLIO FERREIRA, in UMA ESPLANADA SOBRE O MAR (Difel, 1986)

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


EUGÉNIO DE ANDRADE, in CORAÇÃO DO DIA (1958), in POESIA-EUGÉNIO DE ANDRADE (Modo de Ler, 2011)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O poder do mantra OM

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Mantras têm o seu poder no som e não no seu significado, assim devem ser pronunciados corretamente.

São fórmulas sonoras, que acionam fisiologicamente circuitos cerebrais e mentais da esfera humana, com uma ampla abrangência de aplicações e utilidades.

Efeitos vibratórios de Om

O “OM” faz vibrar toda a estrutura da caixa torácica.
Esta vibração é transmitida para a massa de ar encerrada nos pulmões, para a delicada membrana dos alvéolos que, ao vibrar, estimula as células pulmonares permitindo um melhor intercâmbio gasoso.

Esta vibração exerce também, um notável efeito sobre as glândulas endócrinas (hipófise, pineal, tireoide, supra-renais, gônadas).
As vibrações do mantra “OM”, chegam aos tecidos mais ocultos e ás células nervosas, intensificando a circulação nestes locais.
Até mesmo o sistema nervoso simpático e o nervo vago recebem a benéfica influência destas vibrações.
A musculatura de todo o aparelho respiratório relaxa e fortifica-se, a respiração desenvolvida aumenta o aporte de oxigênio para todo o corpo.

A vibro- massagem da vocalização de “OM”, atinge os órgãos da caixa torácica, do abdomem e nervos cranianos.

Como consequência desta vibração, ondas eletromagnéticas são produzidas propagando-se por todo o corpo, aumentando o dinamismo e a vontade de viver e finalmente desenvolvendo a capacidade de concentração.

Deitado ou sentado, com os lábios entreabertos, depois de uma inalação profunda, faz-se a exalação freada expulsando o ar, o qual ao sair, faz vibrar as cordas vocais em um “OOOOOO...” prolongado.

O som deve ser o mais grave e uniforme possível.

Se o emitirmos corretamente com a mão sobre o peito, notaremos a vibração que é produzida nesta área.

Da metade em diante da exalação, vai se fechando a boca, expulsando o ar e contraindo os músculos abdominais emitindo um “MMM...” prolongado e nasalado que se sente no crânio.

Apoiando a mão sobre o crânio, também notaremos a vibração que aí se produz.

Colocando as palmas das mãos contra as orelhas, também se ouve mais nitidamente o “OOOOMMMM...”.

COMO FAZER A RESPIRAÇÃO


1- Respiração lenta: A emissão de “OM” torna mais lenta a exalação, o que revitaliza o coração.

2- Respiração regulada: Quando o som é uniforme a respiração torna-se contínua, sem oscilações.

3- Respiração completa: Expulsa todo o ar residual dos pulmões, como consequência a inalação torna-se mais profunda.

4- Controlo e relaxamento: Para que o som seja uniforme, é imprescindível o relaxamento dos músculos respiratórios durante a exalação.

Os Efeitos Mentais do Mantra Om

1. Quase imediata prevalência de ondas do tipo “Alfa” no cérebro, as quais induzem calma, paz e relaxamento das tensões em geral.

2. Ativa a secreção de substâncias como a “serotonina” e “endorfinas”, que incrementam ou estabelecem a sensação de satisfação existencial de forma continuada. Estimula e exercita a atividade equilibrada dos dois hemisférios cerebrais.

3. Notável aumento da capacidade de concentração e memória.

4. Induz à estabilidade emocional.

O OM pode ser emitido de forma audível somente na exalação, podendo ser entoado mentalmente durante a inalação, intensificando a paz mental.

Durante o dia a dia, repetindo com frequência o mantra OM mentalmente, poderá notar uma grande serenidade e paz mental, elementos estes que são imprescindíveis para a meditação, a felicidade e a saúde.

“Respire OM, coma OM, pense OM, viva OM, seja OM”.

(Swami Sivananda)

Blog - O Caminho do Meio
http://www.luciana-vieira.com/

terça-feira, 2 de abril de 2013

Dicas de auto-ajuda

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1º – Você não é completamente inútil… ao menos serve de mau exemplo.
2º – Se você não é parte da solução … é parte do problema.
3º – Errar é humano, mas achar em quem colocar a culpa é mais Humano ainda.
4º – O importante não é saber, mas ter o telefone de quem sabe.
5º – Quem sabe, sabe. Quem não sabe é chefe!
6º – É bom deixar a bebida. Só tem de se lembrar onde.
7º – Existe um mundo melhor… mas é caríssimo.
8º – Trabalhar nunca matou ninguém, mas… Para que se arriscar?
9º – Há duas palavras que abrem muitas portas: PUXE e EMPURRE.
10º – Não leve a vida tão a sério, afinal você não sairá vivo dela.

Da Alma para o Coração

Não sei se o seu tempo na vida vai ser suficiente para você ser e fazer tudo o que deseja.

Mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas, se nossa lembrança não desperta saudade no coração dos amigos, se, quando partimos, não deixamos no outro a esperança da nossa volta.

Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que manifesta a emoção, olhar que acaricia, amor que aquece e fortalece.

E isso não é coisa do outro mundo, é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, gostosa... enquanto durar.

Se você quer amor... ame! Você sabe amar? Sabe respeitar o que lhe contam? Sabe ouvir sem criticar? Sabe aceitar sem restrição?

Nada preenche o coração, a não ser o Amor, a Amizade.

O agasalho aquece o corpo, lindas roupas o embelezam, mas o que aquece a alma, o que faz brilhar o olhar, o que dá vontade de continuar é o Amor... Só o Amor!!!


Fonte: http://www.rivalcir.com.br/

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Meu amor

Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.


Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.


Meu amor meu amor
meu pássaro cinzento,
a chorar lonjura,
do nosso afastamento.


Meu amor meu amor
meu nó de sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.


JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS, in 366 POEMAS QUE FALAM DE AMOR, Antologia organizada por Vasco Graça Moura (Quetzal, 2003)