domingo, 31 de março de 2013

Em cada sílaba te escrevo

Em cada sílaba te escrevo,
porque há ventos que amam
a praia e as nossas asas,
teimam em voltar galopantes
de onde nunca partiram.
Toco a areia e não me sinto só;
as rendas das ondas
enfeitam-me os cabelos,
prolongam as algas.
Sou água, areia, tu o búzio das marés.
Sabes, adivinhas,
escutas, silencias.
Por isso o nosso toque
não é breve nem sem gosto,
por isso há rios que
se abrem apenas
porque os momentos
se prolongam e entardecem os corpos.


LÍLIA TAVARES, in PARTO COM OS VENTOS (a publicar em 2013)

sábado, 30 de março de 2013

Canção de Deus

osho4105

Cada ser é uma canção de Deus: única, individual, incomparável, que não se repete, mas, ainda assim, vinda da mesma fonte.

Cada canção tem sua própria fragrância, sua própria beleza, sua própria música, sua própria melodia, mas o cantor é o mesmo.

Todos nós somos diferentes canções de um mesmo cantor, diferentes gestos de um mesmo dançarino.

Começar a sentir isso é meditação...

Então, os conflitos desaparecem, as invejas se tornam impossíveis e a violência fica inimaginável, porque, por todo o mundo ninguém mais existe além de nossos próprios reflexos.

Se pertencemos à mesma fonte, como todas as ondas do oceano, então qual o sentido do conflito, da competição, de se sentir superior ou inferior e de todas essas tolices?

Ninguém é superior e ninguém é inferior, todos são simplesmente eles mesmos...

E cada um é tão único que nunca antes houve algum indivíduo como você, e não existe possibilidade de haver um indivíduo como você novamente.

Na verdade, você próprio não é o mesmo em dois momentos consecutivos.

Ontem você era uma pessoa diferente, hoje você é outra pessoa. Amanhã, não dá para saber.

Cada ser é um fluxo, uma mudança constante, um rio fluindo.

Heráclito diz que você não pode pisar no mesmo rio mais de uma vez, porque o rio está constantemente fluindo.

E o rio representa a vida.



Osho

Amar é ser feliz

Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida. Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...).

O dinheiro não era nada, o poder não era nada. Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.

A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.

Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente.

Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.

A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.

O amor não quer possuir.

O amor quer somente amar.


(Autor: Hermann Hesse, Prêmio Nobel de Literatura)

Renascer

!03

Quero viver como as flores,
sem levar saudade das primaveras,
quero somente ter
a alegria de alcançar o infinito
e num mundo de cores
renascer.
Quero viver como as nuvens,
refazendo minhas formas no espaço,
levando esperança a todo canto,
quero me abrigar deste cansaço,
morrer, vivendo,
sem nenhum espanto.
Quero viver como os rios
que livremente se dão oceanos,
que se lançam,
sem temor,
arrastando mágoas, desenganos,
quero levar por vilas e cidades
enchentes de amor.
Quero viver como as manhãs,
sentindo o despertar de cada sol,
quero a luz do dia,
penetrando em mim,
mostrar ao mundo inteiro,
fazer crer
que morte não é fim,
quero ser manhã
para ser capaz de anoitecer...

Ivone Boechat (autora)
Publicado no livro AMANHECER 3ª.Ed Reproarte -RJ 2004

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa,
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, ANTOLOGIA POÉTICA ( 12a edição, RJ, José Olympio, 1978), in ANTOLOGIA POÉTICA (Dom Quixote, Lisboa, 4ª ed., 2007)

sexta-feira, 29 de março de 2013

Olhares...

!0!ClaraCamargo

Terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.


Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!



Miguel Torga, in MIGUEL TORGA-POESIA COMPLETA, vol. II (Publ. D. Quixote, 2007)

Agora que sinto amor

Agora que sinto amor
Tenho interesse no que cheira.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.



Alberto Caeiro, in “O PASTOR AMOROSO”, POEMAS COMPLETOS DE ALBERTO CAEIRO, (Ed. Presença, 1994)

quarta-feira, 27 de março de 2013

Se alguém me perguntar

nevada_3

Se alguém me perguntar, hei-de dizer que sim, que foi
verdade - que não amei ninguém depois de ti nem
o meu corpo procurou nunca mais outro incêndio
que não fosse a memória de um instante junto
do teu corpo; e que deixei de ler quando partiste
por não suportar as palavras maiores longe da tua boca;
e que tranquei os livros na despensa e tranquei a despensa,
acreditando que, se não me alimentasse, acabaria
por sofrer de uma doença menor do que a saudade, mas
a que os outros, pelo menos, não chamariam loucura.

Se alguém me perguntar, direi que foi assim, e não de
outra maneira, como alguns parecem supor - que permiti,
bem sei, que outros homens me amassem e me aquecessem
a cama, mas em troca lhes dei apenas um nome diferente
do que tinham e os vi partir desesperados a meio
da noite sem sentir maior dor que a de saber que, afinal,
também eles não existiam para além de ti; e que no dia
seguinte dava comigo a trautear sem querer essa canção
que amavas (como se ela, sim, se tivesse deitado
no meu ouvido), mas que a sua melodia, em vez
de me alegrar como antes, me escurecia mais a vida.

Se alguém me perguntar, nada desmentirei, nem negarei
que os frutos todos que me deram a provar na tua ausência
me pareceram demasiado azedos ao pé dos que explodiam
em sumo nos teus lábios; e que, por isso, nunca mais quis
um beijo de ninguém, nem sequer inocente, e não voltei
também a aceitar as flores que me traziam por me lembrar
que, em mãos assim, tão grandes para o afecto, o seu
perfume anunciava invariavelmente a chegada do outono.

E contarei por fim, se alguém quiser saber, que o teu silêncio
foi de tal densidade, de tal espessura, que não consegui
escutar nenhuma das vozes que vieram depois de ti e, pior
do que isso, me esqueci com indiferença das mais antigas,
pelo que as minhas noites se tornaram uma tão longa
e solitária travessia que ainda esta manhã acordei ao lado
da tua sombra e respondi baixinho, mesmo sem ninguém
me perguntar, que há coisas que uma mala nunca leva.


Maria do Rosário Pedreira in O CANTO DO VENTO NOS CIPRESTES (2001), in POESIA REUNIDA Quetzal, 2012)

Ainda hoje sou

480971_561422513892581_1854943683_n

Ainda hoje sou
e já não sou mais
que despojos
de um dia que passou:

aquele raio que em mim
se instalou,
aquele aroma
que me enche,
aquele sorriso
que vi e não secou,
as cores
que ontem foram
e hoje não vi.

Tudo isso eu sou,
nesta aurora que se eleva
e não entrou ainda em mim.

É apenas uma luz
que pelos meus olhos entra
e minha alma recebe
e apreciando
faz memória.

Mas é nessa distância que sou;
é nesse horizonte que me projecto;
é o sol que se eleva que eu amo.

Não, não sou apenas o que fui
sou também o que sou,
o que serei e o que não fui.
Sou fé, sou esperança,
sou a justiça que quero ser
pelo amor que me alimenta.
Sou sede de viver.



José Maria Almeida

terça-feira, 26 de março de 2013

Os dez mandamentos de Osho

OSHO

Em 1970 perguntaram a Osho pelos seus dez mandamentos.
Esta foi sua resposta:


"Você pergunta pelos meus dez mandamentos. Isso é muito difícil, porque eu sou contra qualquer tipo de mandamento. Todavia, só pela brincadeira, eu estabeleço o que se segue:

1 - Não obedeça a ordens, exceto àquelas que venham de dentro.

2 - O único Deus é a própria vida.

3 - A verdade está dentro, não a procure em nenhum outro lugar.

4 - O amor é a oração.

5 - O vazio é a porta para a verdade, é o meio, o fim e a realização.

6 - A vida é aqui e agora.

7 - Viva completamente acordado.

8 - Não nade, flutue.

9 - Morra a cada momento para que você possa se renovar a cada momento.

10 - Pare de buscar. O que é, é: pare e veja."



Osho, em "A Cup of Tea"

sexta-feira, 22 de março de 2013

Folha em queda...

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!


Florbela Espanca

Se tu me amas

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…


Mário Quintana

quarta-feira, 20 de março de 2013

Paulina Rubio - Ni Una Sola Palabra

http://www.youtube.com/watch?v=Kkdhtb9DVWQ

Está gritando
Ya sé que no se entera.
El corazón escucha tu cabeza
Pero a dónde vas?
Me estás escuchando?
Que hay de tu orgullo?
Qué habíamos quedado?

La noche empieza y con ella mi camino
Te busco a solas con mi mejor vestido
Pero a dónde estás?
Que es lo que ha pasado?
Qué es lo que queda despues de tantos años?

Miro esos ojos que un día me miraron;
Busco tu boca, tus manos, tus abrazos
Pero tu no sientes nada
Y te desfrazas de cordialidad.

Ni una sola palabra
Ni gestos ni miradas apasionadas
Ni rastro de los besos que antes me dabas
Hasta el amanecer.

Ni una de las sonrisas
Por las que cada noche y todos los días
Sollozan estos ojos
En lo que ahora, te ves.

Como un juguete que choca contra un muro,
Salgo a encontrarte
Y me pierdo en cuando busco
Una oportunidad, un milagro o un hechizo:
Volverme guapa y tú, guapo conmigo.

Frente a los ojos que un día me miraron
Pongo mi espalda y aquí unos cuantos pasos
Y me apunto otra derrota
Mientras mi boca dice "nunca mas".

Ni una sola palabra
Ni gestos ni miradas apasionadas
Ni rastro de los besos que antes me dabas
Hasta el amanecer.

Ni una de las sonrisas
Por las que cada noche y todos los días
Sollozan estos ojos
En lo que ahora, te ves.

No puede ser, no soy yo.
Me pesa tanto el corazon
Por no ser de hielo cuando el cielo
Me pide paciencia.

Ni una sola palabra
Ni gestos ni miradas apasionadas
Ni rastro de los besos que antes me dabas
Hasta el amanecer.

Ni una de las sonrisas
Por las que cada noche y todos los días
Sollozan estos ojos
En lo que ahora, te ves.

Ah-ah-ah-ahha
Ah-ah-ah-ahha
Ah-ah-ah-ahha
Palabras.

Prima_vera

to3DabG

O espírito

Nada a fazer, amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;

E vou com as andorinhas. Até quando?
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.

Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:

Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.


Natália Correia

Poema de Amor

A noite é cheia de vales e baías.
E do meu peito aberto um rio largo de sangue...
Águas densas, de correntes lentas,
serpentes mortas a arrastarem-se.
Águas?
Águas negras, pastosas, alcatrão rolante.
Mas águas puras, verde-claras, atraindo
a margem donde os crocodilos fogem mastigando.
Águas em transparências lucilantes, para cima,
e as estrelas do mar, um polvo e um mefistófeles
ficam no ar sobre ilhéus e lodosos calhaus
que se descobrem.
Plantas brancas e extáticas.. .
Lágrimas... nuvens... e a cabeça, o perfil,
os olhos, todo o corpo da mulher amada, a prostituta
antes de virgem, que é bela e feia, velha e nova,
e não conhece os filhos!

O fogo envolve essa mulher amada
e é um guindaste erguendo-a e atirando-a,
enquanto dispersas pelo chão brilham mandíbulas
naturalmente à espera...


Edmundo de Bettencourt

segunda-feira, 18 de março de 2013

A espera...

louboutin-stamp-429

Eu te prometo meu corpo vivo

Eu te prometo meu corpo vivo
Eu te prometo minha centelha
minha candura meu paraíso
minha loucura meu mel de abelha
eu te prometo meu corpo vivo

Eu te prometo meu corpo branco
meu corpo brando meu corpo louco
minha inventiva meu grito rouco
tudo o que é muito tudo o que é pouco
meu corpo casto meu corpo santo

Eu te prometo meu corpo lasso
mar de aventura mar de sargaço
vaga de náufrago onda de espanto
orla de espuma do meu cansaço
eu te prometo meu doce pranto

Eu te prometo todo o meu corpo
ardendo eterno na nossa cama
como um abraço como um conforto

P´ra que me lembres além da chama
eu te prometo meu corpo morto


Rosa Lobato de Faria

domingo, 17 de março de 2013

O amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..


Fernando Pessoa

sábado, 16 de março de 2013

Re-cl-ame

480139_603391489675771_1576905816_n

Um dia você aprende

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança ou proximidade. E começa aprender que beijos não são contratos, tampouco promessas de amor eterno. Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos radiantes, com a graça de um adulto – e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, pois o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, ao passo que o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol pode queimar se ficarmos expostos a ele durante muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe: algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo de vez em quando e, por isto, você precisa estar sempre disposto a pedoá-la.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva um certo tempo para construir confiança e apenas alguns segundos para destruí-la; e que você, em um instante, pode fazer coisas das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e que, de fato, os bons e verdadeiros amigos foram a nossa própria família que nos permitiu conhecer. Aprende que não temos que mudar de amigos: se compreendermos que os amigos mudam (assim como você), perceberá que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou até coisa alguma, tendo, assim mesmo, bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito cedo, ou muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que verdadeiramente amamos com palavras brandas, amorosas, pois cada instante que passa carrega a possibilidade de ser a última vez que as veremos; aprende que as circunstâncias e os ambientes possuem influência sobre nós, mas somente nós somos responsáveis por nós mesmos; começa a compreender que não se deve comparar-se com os outros, mas com o melhor que se pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se deseja tornar, e que o tempo é curto. Aprende que não importa até o ponto onde já chegamos, mas para onde estamos, de fato, indo – mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar servirá.

Aprende que: ou você controla seus atos e temperamento, ou acabará escravo de si mesmo, pois eles acabarão por controlá-lo; e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada ou frágil seja uma situação, sempre existem dois lados a serem considerados, ou analisados.

Aprende que heróis são pessoas que foram suficientemente corajosas para fazer o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências de seus atos. Aprende que paciência requer muita persistência e prática. Descobre que, algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, poderá ser uma das poucas que o ajudará a levantar-se. (…) Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que você possa consertá-lo. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, plante você mesmo seu jardim e decore sua alma – ao invés de esperar eternamente que alguém lhe traga flores. E você aprende que, realmente, tudo pode suportar; que realmente é forte e que pode ir muito mais longe – mesmo após ter pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem seu valor, e, você, o seu próprio e inquestionável valor perante a vida.


Willian Shakespeare

sexta-feira, 15 de março de 2013

Vida

tumblr_lr39qvQ33v1qzcq51o1_r1_500

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas
que eu nunca pensei que iriam me decepcionar,
mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
e amigos que eu nunca mais vi.

Amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
e quebrei a cara muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!

Viva!!

Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é muito para ser insignificante.


Augusto Branco

Dancemos no Mundo - Sérgio Godinho -

http://www.youtube.com/watch?v=2QjdgkBdOmA

segunda-feira, 11 de março de 2013

Diz-me o teu nome

Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão

com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,

como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o

nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.


Maria do Rosário Pedreira

domingo, 3 de março de 2013

Não posso adiar o amor para outro século

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.


António Ramos Rosa

Valsinha-Chico e Vinícius

http://youtu.be/4W6ydcgeSW0

Waiting...

"Nenhuma espera é eterna, procura apenas saber se andas a espera da coisa certa."

tumblr_mhzzigz8lJ1r3jjj2o1_500

sexta-feira, 1 de março de 2013

Amar

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder...pra me encontrar...


Florbela Espanca

Não é sonho aquilo que vivo

Não é sonho aquilo que vivo
Quando morro nas horas do sono.
São pedaços eternos de tempo
Que se despedem de mim
E da nudez do meu corpo.
Sofre-me mais uma vez,
O menos possível
E eu corro pelo mar dentro,
Neste quarto escuro,
Onde a noite não me prende
Nem evitou que partisses.
Vem embarcar no silêncio,
De mãos vazias,
Onde tantas vezes
Nos encontrámos.
Percorre comigo
A sombra deste chão
Que já foi nosso
Quando o meu corpo
Era certeza e vento
E o teu, argila e fogo


Paulo Eduardo Campos

... sem fim

6263e01fd1e59c1ad5c5740