Disseste em tons de ave que esvoaça
a tua maior ferida, o teu anelo
de esconderes dos olhos de quem passa
o que a ti mesmo queiras esconder.
Disseste em tanto excesso, altas ramadas,
a faustosa vertente que se abria
em leque ou turbilhão, em vagas agitadas
de clamor ou vulcão de que ninguém sabia
a força e a origem – e o próprio sentido.
Disseste até correr o vento todo,
até morrer um sol que tão sumido
se tornara deserto ou lassidão de lodo.
Disseste a desrazão de um desacordo
com tracejado a negro a ser comprido.
JOÃO RUI DE SOUSA, in QUARTETO PARA AS PRÓXIMAS CHUVAS (Pub. D. Quixote, 2008)
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