segunda-feira, 10 de junho de 2013

Não sei

Não sei se nasceste
para o que é excessivo.
Excedes o caminho
das horas,
alargas desmesuradamente
as palavras.
De que são feitas
as tuas noites?
Tão longas como as minhas...
ou tão ténues e breves
que não se chamam noites
e, quem sabe, tenham
perdido o significado e o leito...
Intervalos serão entre
o luar e o sol nascente,
momentos longos e brancos
como densas brumas
para te perderes?
Não sei se encontraste
as tuas estrelas...
Não sei se respiras paredes-meias
com o esquecimento e a solidãocomo
te ignoras, te escondes?
Talvez no final dos dias,
sem ventos, entre a liquidez dos olhares
me reencontres e digas
porque não te debruçaste
na janela para sentires o corpo,
porque não encontraste
a voz, a luz, o fruto
entre tantas palavras sem sabor...


LÍLIA TAVARES , in PARTO COM OS VENTOS (Kreamus, 2013)

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