Quero que tenhas muitas páginas
E versos difíceis de entender
Quero que me digas onde vais
E que nada fique por dizer...
Sei que não há lugares eternos.
Esta cadeira tem horas,
Há ficar e partir...
Há um entardecer
Para os vagares e demoras.
Até pode chover...
Abre e diz-me a teu jeito
Essa página, e outra, e outra,
Mas não, não me toques ainda.
Assim aberto
Fica
Perto
Mas não me toques ainda.
Deixa-me ler até ao fim.
Com os olhos, com o peito
Antes que o vento
Vire a página da decisão.
Quero ser eu
A tocar essas páginas
Que vou ler e anotar.
Mas por agora, quero ler-te
Só ler-te.
Quero amar-te devagar.
CARLOS CAMPOS, in RIO DE DOZE ÁGUAS, 12 POETAS (Coisas de Ler Ed., 2012)
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