amo-te quando anoitece
e as estrelícias reluzem
uma última vez aos raios de sol
as gaivotas indecisam-se
entre terra, doca e algum convés preguiçoso de mangueira,
só.
amo-te enquanto a noite desce
ou vem ou entra
porque nunca saberemos ao certo
se é a noite que baixa até nós
ou se somos nós alçados pela lua
para permitir os trabalhos esmerados
da mais árdua poesia das matérias, da voz mais sábia e mais silenciosa,
só.
amo-te ao ritmo da maré vaza
sem ansiedades nem licitações ou metas
vogando entre o oceano e o areal
impunemente líquida e dançarina
sulcando cada músculo teu
com doces espumas doces línguas
saboreando a teus seixos lisos
teus pequenos rochedos enigmáticos
e a toda a pedra que faz de teu corpo
farol mastro homem,
só.
amo-te, maré a incitar o areal
em idas-e-vindas incansáveis
por sabermos da eternidade dos sabores
agri-doces, ora em flor, ora em grânulo, ora em pó, sabor de sal,
só.
amo-te, sempre de novo. só.
maria toscano ©
Comboio Regional Aveiro-Coimbra-B, 17 Agosto/2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário