quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O Grito do Mar ou Tempos de Raiva

Não há entardeceres que sejam só o desmaiar de cores e o último grito de fogo do Sol.
Não há esperanças despidas do sangue das almas de pouca força. Tudo se mistura.
Os anseios de uns provocam a queda de corpos vivos de outros.
As bandeiras içadas têm braços de mortos a erguê-las ainda.
E há os cegos. Os que passam por tudo isto sem o ver porque ainda lhes sobra uma centelha do conforto de Ter.
Não há sobretudo Silêncio.
Tudo grita.
O Mar grita por gente afoita que um dia conheceu e se afundou em espuma de memórias.
Gritam os esfomeados já sem voz com o som a sair-lhes dos olhos vidrados.
Grita o espírito dos heróis por lhes terem vendido as lutas fatais que um dia venceram. Para todos.
Não há Silêncio.
Mas há os silêncios vis. E esses são muitos. Silêncios que se alimentam da concordância dos cobardes . Da conivência dos que ainda acreditam ter algo a ganhar.
Não haverá vencedores na Guerra da Fome a menos que uns comam os outros no final. Mesmo assim não é uma vitória. Será a última saída.
Ergo o meu braço num aceno ao Futuro que nunca verei e em que pouco acredito.
Mas ergo-o como quem hasteia uma bandeira toda negra com letras brancas a dizer apenas – EXISTO .


Lisboa, 13-08-2013
Madalena Pestana

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