Era o último amor. A casa fria,
os pés molhados no escuro chão.
Era o último amor e não sabia
esconder o rosto em tanta solidão.
Era o último amor. Quem adivinha
o sabor breve pela escuridão?
Quem oferece frutos nessa neve?
Quem rasga com ternura o que foi verão?
Era o último amor, o mais perfeito
fulgor do que viveu sem as palavras.
Era o último amor, perfil desfeito
entre lumes e vozes e passadas.
Era o último amor e não sabia
que os pés à terra nua oferecia
LUÍS FILIPE CASTRO MENDES in OS AMANTES OBSCUROS, incluído em POESIA REUNIDA, (Quetzal, 1999)
Sem comentários:
Enviar um comentário