quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Procuro-te...

Será por isso que só me sinto bem ao pé do mar. Procuro-te nas algas, nos destroços que boiam nas ondas, nos testos de naufrágio sobre a areia, em todas as praias batidas pelo vento. Às vezes vejo-te passar nas nuveus negras, nas que vêm do sul para onde partiste um dia, nas que são empurradas pelo vento do Norte e vêm da fronteira, junto à Galiza, para onde, noutros verões, costumavas ir de férias. Só o mar me traz o teu sabor, a tua mão, o cheiro do teu corpo, que é um cheiro a madressilva e às ervas das areias. Procuro-te nas pedras que podem trazer-me um sinal. É sobretudo no inverno que as praias desertas são a paisagem natural da tua ausência-presença. É então que gosto de passear na Barra de Aveiro, olhar o ângulo convexo do paredão norte com os dois braços da Ria, fixar um ponto segundo regras que os ventos me ensinaram, esperar que o sol e as nuvens reflictam nas águas a sombra do teu rosto.

Manuel Alegre

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