quarta-feira, 8 de junho de 2011

Corsário

Ainda que me ceguem os olhos
seguirei imaginando-te sempre.


Talvez me prendam
na cela dos rancores
- aquela que emudece
o amanhã.
Com pincéis imaginários
na tela da memória
pintarei teu rosto claro
como a estrela da manhã.


No navio do exílio
em breve estarei,
quem sabe condenado
pela afronta de querer-te,
querer-te mais
que o próprio rei.


Virá em meu auxílio
- tenho certeza -
o encanto
que já nasceu quedado
a acompanhar-me
feito guardião,
para afastar de mim
o perigo dos sete mares.


Sobreviverei incólume,
até inflar o peito
com aromas de perplexidade,
por saber-te vagando ainda
dentro do meu pensamento
entre correntes
que não prendem meus ares
de temível apaixonado.


Saltarei à frente do motim
para incendiar
o navio-prisão
e abrir as portas
da liberdade.


Voltarei para perpetrar
o destino clássico
dos aventureiros:
saquear o reino dos tiranos,
apoderando-se da jóia
mais valiosa...
teu coração clamando
pelo amor de tantos anos
guardados no âmago
das tempestades.

Flávio Villa-Lobos

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